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A “bôla” que dá nome à cidade mais alta

Manuela Oliveira não tenciona apostar num negócio da “bôla da Guarda”, mas acredita que esta devia ser “protegida”

Manuela Oliveira não sabe a origem do nome ou da receita mas calcula que a “bôla da Guarda” tenha já alguns séculos. Quando a levou para a Feira de S. João, em junho passado, esta iguaria foi reconhecida pelos mais idosos, muitos dos quais confessaram que não a provavam há muito tempo. «Pouca gente conhece a bôla, só as pessoas mais antigas», refere Manuela Oliveira.

A receita passou de geração em geração na sua família. A auxiliar de ação educativa aprendeu com a mãe que, por sua vez, tinha aprendido com a avó de Manuela Oliveira, a quem esta, então criança, vira este bolo pela primeira vez. Mas a confeção da “bôla da Guarda” remonta, pelo menos, aos bisavôs maternos da guardense. «A minha avó fazia pão e depois, no “restinho” que sobrava, deitava açúcar, canela e azeite, na altura ainda não era manteiga», recorda, acrescentando que «a minha mãe aperfeiçoou um bocadinho». Já Manuela Oliveira não pensa “mexer” na receita de sucesso: «Acho que se puser outros ingredientes não fica tão bem», justifica. Contudo, a guardense admite que evita fazer a bôla porque pode ser uma verdadeira «dor de cabeça»: «É o doce que dá mais trabalho. O esticar a massa é o mais difícil, porque se mexermos mais um bocadinho não se consegue esticar», revela Manuela Oliveira, frisando que «tem de se esticar logo, se dá voltas a mais já não se consegue fazer nada». Se o forno for bom, a bôla demora uma hora a cozinhar.

A sua filha também já sabe cozinhar, mas confessa que não costuma ensinar como se faz. «Digo o que leva e a pessoa faz, mas já me disseram que não fica como a minha», adianta, sublinhando que «é algo delicada de se fazer, não é difícil mas tem um “truquezinho”», que não revela obviamente. No entanto, Manuela Oliveira espera que a bôla não seja esquecida: «Não me importaria de levar a bôla a um evento ou participar num workshop, uma coisa simples», afirma, dizendo desconhecer porque se chama assim ou se é uma receita típica da Guarda. O certo é que a bôla «é muito gulosa, enche e tem muitas calorias», avisa a guardense, que usa habitualmente moletes na confeção da mesma. «Faço para mim e para pessoas mais idosas que já eram amigas da minha mãe, mais no Natal, mas só para amigos», garante.

De resto, fazer negócio da “bôla da Guarda” não está nos planos de Manuela Oliveira, para quem o trabalho que dá «não compensa». Com gosto pela culinária, a guardense prefere dedicar-se a outros doces, mas o mais apreciado pelo público continua a ser a bôla que tem o nome a cidade mais alta: «As pessoas reagiram muito bem na feira, corre um “boato” que tenho ali a bôla e acaba num instante», garante.

A receita do doce tem passado de geração em geração na família de Manuela Oliveira

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