Embora a sua intervenção não estivesse prevista na ordem de trabalhos da tomada de posse dos órgãos autárquicos de Manteigas, Esmeraldo Carvalhinho pediu a palavra e acabou mesmo por discursar antes do próprio presidente. O socialista, que no dia 9 de Outubro obteve 1.326 votos, menos um que José Manuel Biscaia, começou por garantir que o último acto eleitoral «ficou para a história do concelho, do país e da democracia».
Relativamente ao recurso que a sua candidatura apresentou junto do Tribunal Constitucional (TC), alegando irregularidades nalgumas secções de voto de Santa Maria, São Pedro e Vale de Amoreira, o socialista pouco adiantou, dizendo apenas que «não obstante as reclamações apresentadas, o TC e a Comissão de Apuramento Geral não admitiram a recontagem de votos limitando-se a confirmar, por razões meramente processuais, os resultados apurados nas urnas». Ainda assim, o vereador deixou uma vez mais no ar a dúvida quanto à «legitimidade da maioria por um voto conseguida pelo PSD», uma vez que o próprio TC reconheceu ter havido situações ilegais, mas entendeu a queixa como improcedente «por não ter sido realizada em tempo oportuno». Quanto ao futuro, prometeu um trabalho de vereação «intenso e atento, de rigoroso controlo e fiscalização da maioria», acrescentando por outro lado que não contem com ele para «branquear ilegalidades ou soluções incorrectas».
Bem mais estranho, ou pelo menos invulgar, foi o discurso de José Manuel Biscaia, que iniciou o seu terceiro mandato. Socorrendo-se de palavras «de mestres e sábios», como justificou, do princípio ao fim da sua intervenção, o autarca falou do passado, enquanto base para o futuro e nem o Novo Testamento foi esquecido. «”Todo o homem deve ser pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para se irar”», citou. Vieram depois Voltaire, Churchill e Salomão. De resto, José Manuel Biscaia pouco acrescentou em matéria de projectos para o futuro. A terminar a curiosa intervenção, o presidente dedicou aos jovens presentes na assistência um provérbio angolano, afirmando que vai dar «o seu melhor para marcar positivamente» os próximos quatros anos, e apelou à união. «É pelo confronto e pela convivência de pontos de vista mais díspares que melhor se cumprem os desafios democráticos», sustentou.
Eleição conturbada da mesa da Assembleia Municipal
Finda a tomada de posse do executivo, Albino Leitão (PS) conduziu os trabalhos, na qualidade de representante do partido mais votado. No entanto, e estranhamente, foi o PSD que conseguiu eleger João Salvado para a presidência da Assembleia Municipal (AM), embora tivesse menos um deputado e mais três presidentes de Junta que o PS. Isto, porque os socialistas não apresentaram qualquer lista e os seus deputados ainda se abstiveram nesta votação, alegando não quererem «contribuir para a regularização de situações menos transparentes em termos democráticos», explicaram numa declaração de voto. O mesmo documento acrescenta que os eleitos do PS «se abstêm de interferir e participar na legitimação de poderes que lhes são manifestamente estranhos». Mais peculiar ainda foi o facto de Albino Leitão ter encerrado os trabalhos de forma repentina sem, como seria de esperar, dar posse aos eleitos. Uma atitude que, de resto, gerou bastantes protestos por parte dos social-democratas.
Rosa Ramos