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A Beira Interior e a Serra: notas sobre planeamento e turismo (5/5)

Este é o quinto artigo da série. Nas edições anteriores versámos os temas da Ecologia, Paisagem e Memória, Património e Turismo, Aldeias ou Aldeamentos, Política do Território, Programação Integrada e Rural e Urbano. Tentámos, em detrimento do jargão, aludir aos conceitos transversais à reflexão sobre o tema do planeamento territorial, urbano e arquitectónico. A perspectiva de um arquitecto ganhará sempre em ser confrontada com as demais áreas do saber e da cultura, em especial com a das ciências sociais e económicas, que nos ajudam a perceber quanto o espaço condiciona a sociedade que somos.

8. Arquitectura e Turismo

Sob o lema “Cidades verdes, um plano para o planeta!”, a ONU exorta a população mundial a lutar por um meio ambiente mais planeado, limpo e saudável, e a promover acções políticas que contrariem a degradação dos ecossistemas. Alerta o mundo para a necessidade de sujeitar as políticas a um novo paradigma, que concilie o exponencial crescimento urbano com a qualidade de vida, propondo o aumento de eficiência na gestão corrente (energia, água, detritos sólidos, líquidos e gasosos, deslocações, etc.), rumo à sustentabilidade ambiental.

Porque todas estas questões ainda não têm aqui o grau de complexidade que atingiram noutros pontos do País e do Mundo, é imperioso que as autarquias do interior definam, antes de uma política de empréstimos bancários, uma política de arquitectura. Estejamos cientes de que, por força da demografia, o próximo período nesta região não será de expansão urbana, será antes de consolidação. Só um sério investimento na arquitectura quotidiana de qualidade poderá estancar a barbárie edificada e viária, proporcionar aos jovens o direito à habitação, essencial à emancipação, e qualificar o espaço público de todos os dias (ruas, praças e jardins), ao invés da disseminação irracional de recursos por loteamentos avulsos.

Apesar da história, é necessário promover o valor do projecto contemporâneo. Conservar significa tanto inventariar, estudar e recuperar como relacionar (com a paisagem, com a envolvente, com novos usos, etc.), interpretar e divulgar. No domínio da arquitectura e do urbanismo significa intervir fundamentadamente e, se necessário, demolir e transformar, com base em claros critérios teóricos e técnicos. A identidade programa-se e projecta-se, sem mimetismo, mas com rigor e poética. “As cidades, como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor do seu discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas e as suas perspectivas enganosas”, diz Italo Calvino.

Quanto ao turismo, seja para elites ou para as massas, depois do negócio do lazer restará a forma. A qualidade da arquitectura poderá ser, por si só, motor económico. Haja vontade de eliminar os maneirismos e de ser ambicioso e exigente com os programas, com a previsão do impacte ambiental, com o projecto das infraestruturas, dos edifícios e dos interstícios. Evitar a cenografia e a propaganda é um imperativo ético. Exceptuando alguns aglomerados castiços (Torre, Penhas da Saúde, Sabugueiro, etc.), a Serra da Estrela é ainda um dos poucos redutos naturais incólumes à devastação. Não a desencantem!

Por: Francisco Paiva *

* Arquitecto e Docente da UBI (ftapaiva@gmail.com) – Fevereiro de 2007

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