Ainda que as campanhas tenham sido desconcertantemente vazias, a Câmara da Guarda engordou depois do acto eleitoral. O PS pode finalmente mudar de fato. De facto, o primeiro mandato pós Maria do Carmo foi sempre uma espécie de intróito, de fato em fase de prova. Este projecto de oito anos, consistiu, nos primeiros quatro, numa adaptação à divida (e não me refiro só a euros). Foi uma permissão legitimada para avaliar se haveria condições para a saldar, uma prolongada auditoria interna.
Entre estas importantes decisões políticas gastaram-se recursos e dinheiros público, desgastaram-nos a nós. Nada de estrutural se fez. Os floreados cairão como as folhas no Outono.
Para os próximos quatro anos foi sufragada a possibilidade de virem a achar que é já demasiado tarde para fazer frente à (mal)dita dívida. Agora o fato está feito e bem ajustado ao novo ego. Já dá para ir a “Lisboa” sem timidez. Pena que “Lisboa” já não seja o que era.
As campanhas e os resultados das eleições mostraram que parece não haver alternativa, há que continuar a alimentar a barriga da política local, a legitimar a incompetência e a eficiência pré-eleitoral, cuja urgência faz aumentar ainda mais a dívida. A dívida em euros e a dívida (ainda maior) para com aqueles que esperam, há décadas, que a Guarda desatraque do cais da inconsistência, desta visceral paralisia que faz as pedras da calçada parecerem monstros.
A nível nacional tudo isto se amplia…os monstros são autênticos e as suas barrigas dilatam-se a uma velocidade incontrolável.
Não há solução à vista…a política já só tem barriga, não há força de braços, as pernas não caminham, o cérebro esvaziou-se…o coração não bate.
Proponho então que aceitemos isso e passemos a vê-la como uma comédia dantesca, espectáculo para o qual temos que pagar bilhete, mas que nos permite a diversão pela oportunidade que nos dará, ainda que metaforicamente, de enviar as barrigas da política para o Inferno. Que a barriga caia em total flacidez e descrédito, que ninguém a olhe, nem sequer com desdém.
Paralelamente, assumamos um desenvolvimento baseado na responsabilidade dos cidadãos, na conjugação de forças e vontades individuais, no assumir colectivo do comando do barco, num soltar empenhado das amarras rumo à Europa e ao mundo.
Este poder apolítico será real se arriscarmos no dia-a-dia, se nos abstrairmos das geografias obsoletas, se levantarmos o olhar sobre a fronteira da inquinação. Afinal, não reside nestes portugueses da raia um instinto ancestral de sobrevivência, de apátrida mas vigorosa coragem? E não é anarquia, nem rebeldia, é talvez uma nova e complexa postura existencialista, a única que me parece possível destrinçar face ao inominável panorama político.
Por: Cláudia Quelhas
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