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A associação que “colocou” uma aldeia no mapa

ADCS da Aldeia de S. Sebastião, localidade com 80 habitantes junto à fronteira, tem 1.250 sócios

Numa altura em que corria o risco de seguir um destino igual a tantas outras localidades do interior do país, que ficaram quase desertas, a Aldeia de S. Sebastião, junto a Vilar Formoso, viu chegar do estrangeiro um grupo de “filhos da terra” que decidiu formar uma associação juvenil. Inicialmente apelidados de “loucos da aldeia”, estes conterrâneos viram a Associação Desportiva Cultural e Social trazer uma nova dinâmica à localidade, levando-a para além das fronteiras do concelho de Almeida e fazendo “regressar” outros “filhos da terra”.

A obra e as actividades da ADCS da Aldeia de S. Sebastião não param de crescer, como o comprovam os quase 1.250 sócios da agremiação actualmente quando a povoação tem apenas 80 habitantes. Um número que Joaquim Fernandes, presidente da colectividade, explica pela «diversidade de programas que apresentamos», assegurando não haver no concelho, nem no distrito da Guarda, «nenhuma associação de âmbito juvenil que movimente os mesmos jovens que nós», nomeadamente durante o período de férias escolares. Durante o Verão, a aldeia atrai «diariamente» cerca de 90 jovens do concelho, de Vilar Formoso até às aldeias vizinhas. Mas também se regista mais movimento a partir da Páscoa, sobretudo aos fins-de-semana. «Chegam grupos de todo o país», refere. A ADCS é uma associação «sempre a andar e a mexer», criada com o objectivo de «dinamizar e dar outro ânimo» à aldeia, bem como promover o seu desenvolvimento «em todos os aspectos». Nesse sentido, o surgimento da colectividade foi «fundamental» para inverter a tendência de desertificação que começava a pairar sobre a aldeia: «Foi o instrumento da reviravolta por completo. A aldeia não tinha um acesso, um calcetamento…», recorda.

Presidente da associação desde a fundação, Joaquim Fernandes, antigo emigrante na Suíça, diz que a comprovar o dinamismo da sua terra natal está o facto de três jovens casais, «que nada têm a ver com a aldeia», terem comprado casas para ali morarem. Para além de vários proprietários já terem recuperado casas, situação que o dirigente acredita não ser possível sem o surgimento da ADCS. «De certeza que ninguém o ia fazer. Haveria muita gente que já tinha ido embora», garante. A Associação Desportiva Cultural e Social da Aldeia de S. Sebastião foi criada a 18 de Dezembro de 1991 por um grupo de conterrâneos, cerca de 11 casais, que regressaram do estrangeiro. «Foi quando começámos a mexer com isto. Pensámos que tinha que haver programas para os jovens, porque no concelho não há absolutamente nada», adianta Joaquim Fernandes, que enaltece a ajuda «muito útil» da família Corte Real, através da doação de terrenos, e o «grande envolvimento e espírito de união» que a população nutre pela ADCS. Só assim explica que grande parte das infraestruturas da colectividade – sede, centro de dia, que serve 14 utentes, polidesportivo, piscinas, anfiteatro ao ar livre e parque de jogos infantis – tenham sido construídas pela população da aldeia.

«Não há um mosaico em que a Câmara tivesse dado um tostão»

Também na construção do Centro de Juventude e Social «ainda nenhum empreiteiro pôs lá as mãos», garante, orgulhoso. Para o futuro, há a ambição de construir cinco “bungalows”. Com obra à vista, Joaquim Fernandes considera que a melhora resposta a todos aqueles que lhes chamaram “os loucos da aldeia” está no trabalho realizado de há mais de dez anos a esta parte e não esquece o apoio determinante do IPJ da Guarda e do Centro de Emprego de Pinhel. Entre as actividades desenvolvidas contam-se o BTT, canoagem, rappel, escalada, pintura, ténis de mesa, matraquilhos, futebol de cinco, apoio social, um grupo de cordas com 35 elementos, teatro, o grupo musical Aldeia Boys, os “Abutres”, um grupo de “motards” e teatro. Está ainda a ser desenvolvido um projecto, em todas as freguesias do concelho, «completamente grátis para quem queira aprender conhecimentos básicos de informática», em que já participaram mais de 500 pessoas.

No entanto, “nem tudo são rosas” na vida da associação. «Não há um mosaico em que a Câmara de Almeida tivesse dado um tostão», garante Joaquim Fernandes, que se diz «profundamente desagrado» com a atitude «reprovável» da autarquia. De resto, o único apoio concedido pelo município à ADCS é uma ajuda para a Ceia de Natal dos idosos, «isto, para todo o ano», sublinha. O presidente garante que a colectividade está «a passar dificuldades para continuar a manter o ritmo na organização das actividades e, se não houver outra atitude do poder local, os projectos para o próximo Verão poderão estar em risco». É que todas as actividades promovidas são programadas «para que se paguem a elas próprias e fique sempre algo para a colectividade», porque a ACS já sabe que da Câmara «não vem nada», lamenta o dirigente.

Ricardo Cordeiro

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