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«A aposta na energia nuclear em Portugal ainda é um assunto artificial»

Cara a Cara – Entrevista

P – A nomeação para a Agência para a Energia Nuclear da OCDE vem premiar o trabalho que vem desenvolvendo no domínio da Magneto-hidrodinâmica?

R – Não considero um prémio, mas antes o reconhecimento do meu trabalho. Contactei a Agência no sentido de obter alguns dados, porque tem uma base de dados científicos sobre esta área de que preciso para calibrar os meus modelos numéricos, e mostraram muito interesse no programa que eu estava a desenvolver. Foi nesse âmbito que surgiu o convite para ser “liaison officer” da NEA. Foi mais ou menos uma troca. Ofereci o trabalho que andava a fazer, porque a Agência me disponibiliza acesso à informação que necessitava.

P – Em que vão consistir as funções de “liaison officer” da NEA?

R – Para se aceder a essas bases de dados, que são confidenciais, eles precisam de investigadores que conheçam o ramo e que possam avaliar o acesso por parte de outros investigadores. Por exemplo, se uma empresa quer alguns desses dados, ela faz um pedido e depois nós vamos analisar o objectivo do trabalho que propõem fazer, verificar o mérito e a adequação e se não há fuga de informação. Deram-me uma lista que inclui pessoas, instituições e até países considerados “terroristas” que não as podiam receber. Vou ter acesso às bases de dados e depois podemos fornecê-las a essas empresas com base no nosso critério de avaliação. No fundo, precisam de investigadores para avaliar o trabalho dos outros investigadores.

P – Vai efectuar esse trabalho em Portugal e continuar a leccionar na UBI?

R – Sim. Eles enviam os pedidos e eu analiso o trabalho. A Agência tem o seu “staff”, mas depois precisa de investigadores externos que façam a avaliação dos pedidos.

P – O que é a Magneto-hidrodinâmica?

R – A Magneto-hidrodinâmica estuda o escoamento provocado por campos magnéticos em fluidos condutores. Na prática, serve para controlar. Nós temos instalações nucleares onde se criam plasmas a altas temperaturas que não podem entrar em contacto com paredes sólidas porque seriam derretidas se isso acontecesse.

P – É, de certa forma, reconfortante um docente da UBI ser nomeado para uma entidade importante como é a NEA?

R – Acho que a conotação universidades do interior ou do litoral depende das pessoas que lá trabalham. Considero que há boas universidades no interior, assim como no litoral. Pessoalmente acho que a UBI tem começado a distinguir-se em várias áreas. Não estou muito preocupado com a palavra interior na UBI, porque acredito que tem professores ao nível do que de melhor se faz no mundo. Em todas as instituições há bons e maus professores, mas, pessoalmente, acho que a UBI está a crescer muito e a tornar-se mais forte.

P – Considera que Portugal deve apostar na energia nuclear?

R – Enquanto investigador não me compete fazer política. Mas, em primeiro lugar, temos que distinguir entre o que são as centrais nucleares, que têm efeitos radioactivos e são o passado, e o que estamos agora a trabalhar, projectos com reactores de fusão nuclear em que já não há o problema da radioactividade. Se esse tipo de centrais se tornar economicamente viável, que ainda não é, então temos o problema da energia resolvido. Mas ainda assim, a questão de Portugal apostar ou não na energia nuclear não deve ser colocada assim tão facilmente, porque nós podemos, eventualmente, comprar energia eléctrica a Espanha. Temos as redes interligadas e uma central nuclear na fronteira do Tejo Internacional, que fica mais perto de nós do que de Lisboa. Essa questão é um bocado artificial. O investimento e a estratégia que isso envolve, a comparação com as outras fontes de energia que ainda resta explorar, nomeadamente a hídrica, é uma questão política e que diz respeito a quem governa. Em termos de rendimento puramente económico, é uma boa opção, mas há as desvantagens ambientais que se conhecem e que os nossos filhos pagarão. Em relação à estratégia energética do país, acho que vai depender da comparação com outras fontes de energia existentes. Também é certo que temos obrigatoriamente que reduzir as emissões de dióxido de carbono.

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