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A aluna e o telemóvel expiatório

O desacato de uma aluna com a sua professora, por causa de um telemóvel chocou o país.

Ainda esta quinta-feira o Expresso publicou na Internet mais 20 vídeos que mostram indisciplina grave em escolas portuguesas. Todos esses vídeos, incluindo aquele que se tornou famoso e que o Expresso divulgou há oito dias, estavam alojados no sítio do “YouTube”, provavelmente publicados por jovens que os filmaram. Porque hoje, com as disponibilidades técnicas, quase tudo pode ser transformado em acto público.

Há, no entanto, um objecto privado, tão privado como os diários pessoais de antigamente: o telemóvel. Qualquer pessoa que lide com adolescentes sabe que o telefone, onde se alojam mensagens de amigos e namorados, onde se escrevem opiniões íntimas, é considerado inviolável. Como aliás as ‘salas’ de conversação da Internet e outros meios de ligação em rede.

A incompreensão do telemóvel como objecto de intimidade levou, aliás, a professora a partilhar aquela cena triste. Na verdade, se a acção da aluna é patética, não o é menos a da professora, que disputa o objecto, puxando-o, como se enfrentasse alguém da sua idade e condição.

Professora que, depois de semanas de silêncio, decidiu (não se sabe aconselhada por quem ou porquê) queixar-se de todos os alunos, demonstrando, aliás, a sua submissão aos ditames do mediatismo do caso.

É óbvio que a professora tem sobejas razões de queixa. Claro que as tem! Mas tomar como alvo os alunos é errado.

Como é errado o alvo para onde apontam os sindicatos, que insistem em que o problema está, sobretudo, nos pais. Também está, mas se a autoridade dos pais está minada, têm eles inúmeras razões de queixa da escola que subverte essa mesma autoridade. Além de queixas da comunicação social, da televisão e da sociedade em geral.

Um jogo de passa-culpas é sempre possível. Mas é claro que cada instituição tem os seus responsáveis, aqueles que têm de responder pelo que se passa na área que tutelam. Esse será o alvo certo, o Ministério da Educação. Não esta ministra em concreto, provavelmente nenhum ministro em concreto, mas uma ideologia, uma mundividência errada e destruidora da ligação entre professores e alunos, entre mestres e discípulos que se alojou há décadas no Ministério e que, por facilidade de linguagem, chamamos “eduquês”.

Obscurecer este facto para centrar o debate na mera indisciplina dos alunos ou na depressão e ameaças que sentem os professores é transformar isto no simples caso do telemóvel expiatório.

Por: Henrique Monteiro

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