O dia solarengo estava mais convidativo para passeios ao ar livre do que para a sessão solene comemorativa do 30º aniversário do 25 de Abril. Certamente por isso ficaram vazias muitas cadeiras da sala da Assembleia Municipal da Guarda, que juntou no último domingo muito poucos deputados e quase nenhum público. Um ambiente estranhamente gélido para uma efeméride tão sentidamente celebrada por todo o país.
Menos surpreendente que este cenário desolador foram as intervenções de todas as bancadas. Da esquerda à direita, os oradores foram previsíveis e recorrentes na análise. Honorato Robalo, da CDU, abriu os discursos lembrando a revolução com palavras de ordem que se repetem há 30 anos. Celebrar Abril é comemorar «uma data maior da nossa história, o tempo novo da liberdade e da democracia», uma época que marcou «a vitória do futuro sobre o passado», disse o deputado comunista, que não esqueceu a perspectiva pessimista quanto à falta de direitos dos portugueses. Seguiu-se Pereira da Silva, da bancada do Partido Popular (PP), que preferiu alertar para a importância de «renovar o ensino e preparar eficazmente a juventude» a todos os níveis. Já o balanço do médico em relação aos 30 anos do 25 de Abril não é nada tranquilizador: «Temos uma tarefa ciclópica à nossa frente», considerou, apelando para que o país caminhe para as «verdadeiras liberdades e que se cumpra a verdadeira revolução». Quanto ao PSD, Rebelo de Oliveira relembrou que naquela época «nem tudo foram cravos, rosas, laranjas e outros símbolos», mas que se há 30 anos atrás havia esperança, «agora temos confiança». É a teoria da evolução.
O jovem deputado Pedro Guerra falou em nome dos socialistas e disse que Abril é uma lição que devemos ter presente: «Não é uma data ou sequer uma comemoração, é antes uma acção incessante praticada quotidianamente», referiu. Maria do Carmo preferiu seguir a teoria da evolução de Rebelo de Oliveira e constatou que Portugal viveu «30 anos de verdadeiro crescimento, de integração numa comunidade internacional onde cada vez mais as fronteiras se diluem». Só que, face a uma nova ordem internacional, a autarca considerou «premente viver os ideais do 25 de Abril». Mais sentimentalista, o presidente da Assembleia Municipal, José Martins Igreja, puxou da memória para recordar os momentos que ele próprio viveu durante a Revolução dos Cravos. Estava então em Lisboa, chegado à universidade pouco mais de meio ano antes, pelo que «assistiu ao vivo e a cores ao espectáculo», recorda Martins Igreja. «Abril é, pois esperança», relembrou, sublinhando não poder ser «um dia, um ano ou uma década», será antes algo que se constrói «no dia-a-dia em democracia». Ficou tudo dito ao fim de uma hora. Para o ano haverá mais concerteza.