Por estes dias, milhares de portugueses enviaram aos seus amigos mensagens a desejar feliz Natal e um próspero ano novo. É verdade que se deseja sempre o melhor para os amigos, mas nunca como agora tivemos tanta certeza de que poucos terão em 2012 um ano melhor do que o anterior. Aos tradicionais aumentos de preços trazidos pelo ano novo somam-se o pagamento das SCUTs e os já anunciados aumentos de alguns impostos, os cortes nos subsídios de férias e Natal, e todo um conjunto de restrições orçamentais que congelarão a economia portuguesa nos próximos anos.
Perante este cenário, desejar um próspero ano de 2012 soa quase a sadismo, mas a verdade é que neste desejo estão as nossas armas para enfrentar a crise: determinação, vontade e querer. Conhecemos a situação do país e sabemos que a região não é uma ilha isolada do contexto nacional, mas é sempre possível fazer algo mais. E a verdade é que ainda temos muitas potencialidades por explorar.
O problema que mais afeta a região é o desemprego, uma situação que se reflete em todos os setores. Sem dinheiro a circular, comércio, serviços, agricultura e indústria perdem faturação, o que leva a mais despedimentos e, consequentemente, a mais desemprego. Esta espiral só termina com a criação ou instalação de novas empresas.
O Data Center é um bom exemplo do que é possível fazer, mas abro aqui um parêntesis para referir que região deve ser capaz de integrar estas iniciativas sem prejudicar o potencial existente. Parece evidente que as razões para a instalação deste centro na Covilhã foram os incentivos relacionados com a localização do investimento e a presença da UBI. Por isso não vejo razão para o Data Center ser construído justamente num local que nada acrescenta ao projeto, mas que ocupa um espaço com potencial para outros setores. Se é verdade que o centro criará algumas centenas (duvido dos milhares que por aí se diz) de postos de trabalho, a sua localização naquele local impede que outras atividades na área da aeronáutica se possam ali desenvolver. O mais recente investimento da Embraer em Portugal e a eventual emergência de um cluster na área de aeronáutica são agora uma miragem para a Covilhã, devido ao encerramento do aeródromo.
Independentemente dos erros cometidos, a instalação desta unidade da PT vem provar que é possível atrair investimento, usando para isso o importante trunfo que são as Instituições de Ensino Superior, neste caso a Universidade da Beira Interior. Mais do que uma mera fonte de receitas, estas instituições são uma mais-valia pelo conhecimento que geram, mas também porque formam quadros da região e para a região, mantendo os seus jovens e atraindo outros que chegam de todo o país. A sustentabilidade do interior depende da nossa capacidade para fixar esta população jovem, criando condições para que formem aqui a suas famílias.
O ensino, a saúde e a segurança oferecidas atualmente pela região permitem ter uma boa qualidade de vida, mas nada disto é suficiente sem oportunidades de emprego. Por isso devem ser privilegiadas as políticas de investimento, procurando atrair empresas e oferecendo condições que facilitem a criação de iniciativas empresariais a nível local. Em lugar da criação de emprego nos próprios quadros, as autarquias devem canalizar os apoios para os jovens empreendedores, incentivando a sua fixação na região. Sabendo-se que o pagamento nas SCUT’s vai ter um forte impacto no turismo, a região deve virar-se para outros setores, ligando-se às áreas de ensino e investigação das instituições de ensino da região: novas tecnologias da informação, energia, saúde, design, aeronáutica, e agroalimentar são algumas das áreas que podem fazer a diferença a nível global, levando a região para níveis de pleno emprego.
As dificuldades que o país atravessa podem ser uma oportunidade para se aproveitarem as potencialidades existentes. Mas para isso é necessário que os responsáveis políticos locais vejam um pouco para lá das suas ambições pessoais e criem condições para que a nova geração possa trilhar o seu caminho. O ciclo das rotundas, dos ascensores, dos semáforos e dos painéis de azulejos chegou ao fim. Agora é tempo de apostar em estruturas produtivas e nos projetos de todos os que gostam da sua terra e por aqui querem continuar. Só assim poderemos desejar verdadeiramente um próspero ano novo.
Por: João Canavilhas