Arquivo

2007

Destaco dois fenómenos no ano que acaba, ambos perturbadores, ambos de consequências por enquanto mal avaliadas. O primeiro é o aquecimento global, que pela primeira vez atinge pela sua evidência o grande público e obriga os governos, com décadas de atraso, a tomar as primeiras medidas concretas. Os próprios EUA, que se tinham recusado a subscrever o protocolo de Quioto, com o argumento de que de este de nada valeria sem compromissos idênticos da Índia e da China, reconhecem agora a urgência de se fazer alguma coisa, e já. O mesmo reconheceu o comité Nobel, ao agraciar Al Gore pelo seu trabalho de alerta para os problemas do aquecimento global. O mesmo reconhecem já os cidadãos, espantados com o desaparecimento das estações, com o inverno que não aparece, com os verões demasiado quentes.

Falar do tempo deixou de ser conversa de circunstância e o Borda d´ Água deixou de ser fiável. Os estudos e as publicações sucedem-se, com dados e previsões cada vez mais preocupantes. Dois títulos de 2007: “6 graus, o nosso futuro num planeta em aquecimento”, Mark Lynas, Civilização Editora, 2007, que em seis capítulos mostra o que aconteceria se a temperatura média aumentasse de um grau, de dois, de três, etc. Sabemos já que, no século XXI, se espera um aumento médio da temperatura de pelo menos três graus, independentemente do que façamos já. Lynas mostra como vai ser e a imagem não é bonita de se ver. O segundo livro que destaco mostra o nosso peso no planeta e como este se curaria, ou não, com o nosso desaparecimento: “O Mundo Sem Nós”, de Alan Weisman, Estrela Polar 2007. Weisman, que esteve recentemente em Lisboa, alerta para além do (muito) mais para o flagelo dos sacos de plástico que são oferecidos anualmente aos milhões de toneladas nos supermercados de todo o mundo. Depois de usados são deitados fora e acabam, em parte, por ir ter ao oceano. Aí são desfeitos em pó pela força das ondas e misturam-se com o plâncton, acabando por entrar na cadeia alimentar. As consequências a longo prazo não estão ainda estudadas mas não serão certamente boas.

Outro fenómeno de 2007 foi a crise do crédito. Primeiro estava localizado nos EUA, mas rapidamente se descobriu que tinha ramificações em todo o mundo, de tal forma se encontram globalizados os mercados financeiros. De um momento para o outro, os bancos centrais viram-se obrigados a ceder na luta contra a inflação e a baixar de novo as taxas de juros. O Banco Central Europeu continua a resistir mas abandonou a política que tinha delineado para os próximos tempos e, pelo menos, tem mantido as taxas que estava previsto inicialmente subirem. Boas notícias para os milhões de endividados por esta Europa fora? Não, é apenas um temporário balão de oxigénio, é apenas a prova de que estava tudo errado e de que ninguém sabe muito bem como resolver o problema. Ao menos assim evitou-se temporariamente o colapso do sistema bancário e a execução dos milhões de hipotecas em risco de incumprimento. E o problema da inflação? Uma coisa de cada vez, por favor, que são muitos problemas ao mesmo tempo. País da Europa mais vulnerável à crise do crédito? Portugal.

Por: António Ferreira

Sobre o autor

Leave a Reply