«Depois da vergonha da pedofilia, neste fim de 2005, em Portugal – aqui mesmo ao lado – um pai violou uma filha de mês e meio. O que não acontece nem entre os cães. Em 2006, o homem continua reconduzido na sua condição de besta! Uma besta moderna, mas uma besta! »
Um olhar rápido pelo mundo revela que a mutilação genital feminina afecta mais de 80 milhões de mulheres e meninas no mundo. Uma prática que usual em mais de trinta países. A extensão de uma circuncisão primária pode variar de uma incisão no prepúcio do clítoris até uma circuncisão com remoção do clítoris e dos pequenos lábios ou à sutura dos grandes lábios, de forma que só reste uma abertura mínima para escoar urina e sangue menstrual.
Em cada 3,5 segundos morre um ser humano de fome. O número não pára de crescer e já chega a 307 milhões de pessoas no mundo. Para a ONU, o dado mais preocupante é a tendência de que esse número aumente até 2015, quando os países menos desenvolvidos poderão passar a ter 420 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza.
Calcula-se que 815 milhões, em todo o mundo sejam vítimas crónica ou grave subnutrição, a maior parte das quais são mulheres e crianças dos países em vias de desenvolvimento.
A subnutrição crónica, quando não conduz apenas à morte física, mas implica frequentemente uma mutilação grave, nomeadamente a falta de desenvolvimento das células cerebrais nos bebés, e cegueira por falta de vitamina A. Todos os anos, dezenas de milhões de mães gravemente subnutridas dão à luz dezenas de milhões de bebés igualmente ameaçados.
No século XX, os conflitos armados provocaram, directa ou indirectamente, a morte de 191 milhões de pessoas, mais de metade dos quais eram civis.
Estas estatísticas, segundo os relatores do documento da Organização Mundial da Saúde, estão longe de contabilizarem todos os mortos, dado que a maioria dos actos de violência são cometidos longe de qualquer olhar.
Uma grande parte da população mundial vive sob regimes ditatoriais ou onde a liberdade de expressão está condicionada. A maioria destes regimes são produto de golpes militares, os quais tem procurado “legitimar-se” através de pseudo-eleições democráticas. Povos inteiros morrem em guerras civis. Irmãos de sangue morrem em actos bárbaros e primitivos.
Enquanto combatem os genocídios no mundo e os poderes totalitaristas, “democracias” como as dos Estados Unidos da América admitiram recentemente escutas telefónicas sem autorização dos tribunais e torturas em prisões secretas algures pelo mundo.
“Há escravos na maior parte do mundo, definitivamente no teu. E tu não podes pensar que isso não é uma preocupação tua: provavelmente comes, vestes ou brincas com produtos que podem estar ligados ao trabalho escravo. Estás imlicado na economia da escravidão, gostes ou não.”, in, Colors (Revista da Benetton, Janeiro de 2003).
Existem 27 milhões de pessoas vendidas como escravos em todo o mundo. O trabalho escravo e as redes de prostituição constituem neste momento, um dos negócios mais lucrativos em todo o mundo.
Será que foram contabilizadas… as crianças que diariamente são traficados para estâncias de turismo sexual ? As jovens vendidas pelas famílias como prostitutas para bordeis? Os imigrantes clandestinos obrigados a escravizaram-se para poderem sobreviver? As mulheres forçadas a casarem-se com quem não desejam? Aquelas que vivem sob coacção e tratadas como escravas? Os toxicodependentes escravizados a troco de doses de droga? Os “homens-bomba” que semeiam o terror em nome de uma religião que cega?
«Exterminem as bestas»
A editorial Caminho lançou recentemente o livro «Exterminem Todas as Bestas», de Sven Lindqvist. Um título extraído do romance «O coração das Trevas», de Joseph Conrad.
Entre outros relatos impressionantes, recorda que o Extermínio dos judeus pelo Terceiro Reich não foi original: «Hitler encontrou modelo nos britânicos e noutros povos do Ocidente só que ele virou-se para Ocidente».
Escreve que a «arte de matar à distância tornou-se desde muito cedo uma especialidade europeia». Fala do aperfeiçoamento das armas ao longo da História, e da sua utilização: «A utilização de balas dum-dum entre Estados “civilizados” era proibida. Estavam reservadas para a caça de animais de grande porte e para as guerras coloniais». Mas nada mais entusiasmante que ser caçador de homens.
Lança um olhar sobre o tráfico de escravos, as chacinas, as matanças maciças do colonialismo. O imperialismo no início do séc. XIX e uma nova forma de racismo, com um grande número de europeus a interpretar «a superioridade militar como superioridade intelectual e até biológica».
Coligindo diversos documentos da época, o autor vai reunindo pedaços de memória histórica, alimentando a nossa vergonha secular, as verdades que doiem, tantas são as formas da nossa ignomínia. Este livro vem demonstrar que a barbárie se perpetua no tempo. E o que mudou no mundo?
Com o passar dos anos, certamente evoluíram as armas. A economia da escravatura na era global. A pornografia digital. Mas o homem – infelizmente – em cada ano que passa, continua a mesma vergonha dos livros de história. E não falo do homem perdido das selvas africanas…
Depois da vergonha da pedofilia, neste fim de 2005, em Portugal – aqui mesmo ao lado – um pai violou uma filha de mês e meio. O que não acontece nem entre os cães. Em 2006, o homem continua reconduzido na sua condição de besta! Uma besta moderna, mas uma besta!
Por: João Morgado