Arquivo

2005 Odisseia de Chocolate

Corta!

Não poderia ter sido melhor o regresso do Corta! às salas de cinema, após o habitual interregno durante o mês de Agosto, repleto de noites mais convidativas para outro tipo de actividades. Como as estreias, ao longo do mês de férias por excelência, também não costumam ser as melhores, menos dolorosa se torna a separação.

Há poucas semanas atrás, a afirmação de que Tim Burton deveria ter deixado de filmar logo após o maravilhoso Sleepy Hollow – A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, estaria correcta. Obras fantásticas e brilhantes como Eduardo Mãos-de-Tesoura, Ed Wood ou Marte Ataca!, perfeitas do princípio ao fim, pareciam já pertencer a um passado ao qual Burton não conseguia voltar. O desastroso Planeta dos Macacos e o decepcionante Big Fish, não deixavam muitas esperanças mesmo no mais acérrimo fã do universo bastante característico de Burton. Mas eis que, entretanto, inesperadamente, nos deparamos com o renascimento daquele que foi já um dos mais interessantes realizadores americanos. O que era correcto há tão pouco tempo atrás, depois da estreia de Charlie e a Fábrica de Chocolate, perde todo o seu sentido.

Num regresso às origens, com Eduardo Mãos-de-Tesoura como principal modelo seguido, Charlie é já um clássico instantâneo. Também ele perfeito de principio a fim, como já antes Burton nos tinha habituado, e mais recentemente desabituado. Num regresso às origens, Burton não se podia esquecer do seu actor fetiche. Ele mesmo: Johnny Depp, cada vez melhor nos papéis que o seu realizador lhe oferece, e onde o actor consegue visitar todos os limites por onde se deseje passear. A liberdade é total, os resultados arrebatadores. Desta vez, no papel de Willy Wonka, dono de uma fábrica de chocolates, Depp assina um dos seus mais fantásticos papéis, cruzamento possível entre o seu já icónico Eduardo e o pirata à la Rolling Stones das Caraíbas. Delirante!

Um filme como Charlie e a Fábrica de Chocolate, de tão mágico e grandioso, não cabe em poucas palavras. Cada palavra, ou frase, pensada ou escrita para dele falar, traz logo consigo, de imediato, muitas mais. Bem coladinhas umas nas outras. Cada segundo deste filme parece encerrar em si uma imensidão de pequenas grandes coisas que apetece rever e partilhar. Infantil, por vezes, como O Feiticeiro de Oz o é, este novo filme de Burton vai de Oz ao Espaço, via Odisseia de Kubrick, com direito a monólito transformado em barra de chocolate e tudo. Tudo isto polvilhado por momentos musicais hilariantes, que vão pontuando as exclusões dos concorrentes que ganharam o concurso para visitar a fábrica de Willy Wonka.

Com personagens e locais bem definidos e sem pontas soltas, explorados de forma minimal e minuciosa como Burton (também aqui) nos tinha habituado… e mais recentemente desabituado, tal como não tinha sido conseguido no seu anterior filme, este Charlie, desta vez sim, faz ansiar por novo produto fabricado na enorme fábrica da imaginação Burton.

Por: Hugo Sousa

Sobre o autor

Leave a Reply