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1995

Bilhete Postal

Rui Trindade no “Expresso” de boa memória dos idos anos de 1995, a 29 de Setembro, escrevia sobre «o fim da vida privada». Rui preocupava-se e informava sobre a vídeovigilância. Era algo que estava para chegar. O artigo reflectia nas várias frentes, as câmaras em lugares públicos, o início do controle biométrico, as potencialidades de uma via verde na vigilância dos cidadãos, a disseminação dos cartões magnéticos com cada dia mais informação. Havia já um “Alert” para seguir os prevaricadores nos estádios, o fenómeno “holligan” controlado remotamente. Os animais estavam a ser preparados para o controle por microprocessadores colocados sob a pele. Assim, o rebanho ia com um pastor munido de um leitor de códigos de barras. Neste ano de 1995 o GPS (Global Positioning System) era uma fantasia em vias de sucesso. Não se falava de pulseiras electrónicas para os presos, nem de médicos a preencher sistemas “alert” em vez de observarem minuciosamente os seus pacientes. Hoje podemos saber quem fez o quê, quanto tempo demorou, monitorizar-lhe os tempos de almoço, de gestos por objectivo pretendido. E podemos muito mais, podemos colocar no “Youtube” os desaires observados nas câmaras de videovigilância, podemos vender “snap movies” com os meninos a bater na avó, as professoras a fugir de alunos ameaçadores. Rui esquecia, em 1995, a função dinâmica da vida e a capacidade inventiva dos homens. Ele alertava para o perigo da exposição e da falta de privacidade e eles hoje expõem-se gratuitamente sem qualquer interesse pelo recato. Passaram 14 anos do artigo do “Expresso”, que guardei religiosamente, e a vida surpreendeu-me mais uma vez.

Por: Diogo Cabrita

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