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11 de Setembro três anos depois

Curtas-metragens de onze realizadores mostram pontos de vista polémicos e militantes sobre a tragédia

A Mediateca VIII Centenário, na Guarda, assinala amanhã à noite o terceiro aniversário do atentado terrorista nas Torres Gémeas de Nova Iorque com a exibição do filme colectivo “11th September”. Onze realizadores, de diversas sensibilidades e nacionalidades, realizaram outras tantas curtas-metragens cada uma com a duração exacta de 11 minutos, nove segundos e uma imagem (11’09″01 – título original) sobre o tema do 11 de Setembro. Esta produção, cuja estreia em Portugal aconteceu em 2002 no Cine Eco – Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Ambiente, realizado anualmente em Seia, é uma visão intrigante e dolorosa do acontecimento e das suas implicações globais, mas também uma mensagem de paz e de tolerância entre os povos.

Samira Makmalbaf (Irão), Claude Lelouch (França), Youssef Chahine (Egipto), Danis Tanovic (Bósnia), Idrissa Ouedraogo (Burkina Fasso), Ken Loach (Inglaterra), Alejandro Gonzalez Inarritu (México), Amos Gitai (Israel), Mira Nair (Índia), Sean Penn (Estados Unidos) e Shohei Imamura (Japão) mostram o seu ponto de vista polémico e militante sobre a tragédia contextualizando-a com outros acontecimentos mundiais. A América é confrontada com a sua responsabilidade no atentado por Ken Loach, que escolheu recordar o golpe de Estado de Pinochet no Chile (curiosamente a 11 de Setembro de 1973) e o apoio da CIA no derrube de Allende através da carta de um exilado chileno a uns amigos americanos. Já Tanovic evoca a guerra da Bósnia e Gitai a luta fratricida israelo-árabe num único plano sequência. O japonês Imamura filma os traumas da II Guerra Mundial e Chahine apresenta uma discussão em torno do papel dos Estados Unidos no mundo.

Mais forte e anti-americana é a metáfora de Sean Penn sobre um velho enclausurado nas suas memórias cujo apartamento sai da penumbra após a queda das torres, obrigando-o a enfrentar a realidade. Por sua vez, Mira Nair critica violentamente os preconceitos contra os muçulmanos, enquanto Idrissa Ouedraogo oferece a única tónica humorística desta série, apresentando um grupo de crianças que tenta capturar Bin Laden para ganhar os 25 milhões de dólares de recompensa que tencionam aplicar em melhorias sociais no seu bairro. Radical é a proposta do mexicano Alejandro Gonzalez Inarritu que optou por um ecrã negro, rasgado a espaços curtos por imagens de pessoas a cair no vazio, tudo sobre um fundo sonoro de vozes, gritos e apelos de algumas das vítimas do atentado. Uma meditação sobre estes acontecimentos que continua actual.

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