A felicidade, dizem-nos, está no sucesso. O sucesso, convencem-nos, mede-se em números. Números de casas, carros, obras de arte, joias, destinos de férias, empregados, fama e muitos polegares a apontar para o céu com a segurança de quem conhece bem o lugar onde fica o paraíso. Comprovadamente, tudo números considerados excessivos para distribuir pelos comuns dos mortais. Daí, a tão almejada “felicidade” estar só ao alcance de uns quantos escolhidos, idolatrados por todos, prebendados por uns quantos e (en)comendados por quem mais perceba do abacelamento dos “felizes e exitosos”. Acontece que, com a felicidade dos outros parece que já ninguém se entende e a última turbulência, à volta da prisão do Joe Berardo, acaba por trazer atrelada a diferença de postura e conduta nas Comissões de Inquérito do Parlamento sobre a farra das “dívidas monumentais que nunca serão pagas” para com empresários e gestores. À arrogante impertinência dos primeiros e à envergonhada defensiva dos segundos, contrapôs-se a mesura e a desmesura dos deputados da nação a quem, por essas e por outras, os felizardos acabam por não ligar lá grande coisa, ao ponto de nem ouvirem o que esses lhes perguntam. Como se percebeu pelas respostas dos empresários e gestores, eles próprios mistificados e desmitificados, este caso terá o desfecho que o Estado de Direito possibilitar, mas, seja ele qual for, dificilmente corrigirá o rombo na credibilidade dos que escolheram, a par de subserviências várias, prestar-lhes homenagens tão inadvertidas.
É que, a bem da democracia e da transparência, importaria tanto saber quantas falências de empresas e famílias custaram as comendas de Berardos & Cia., como quais os estratagemas e conluios que permitiram que os empréstimos bancários atingissem tal monta e repercussão na felicidade (pequenininha) do resto das pessoas. Não sem primeiro saber para que raio serve tal coisa, claro! Essa, a de nos pelarmos por títulos e distinções e, ainda mais, por concedê-los. Com este exercício, provavelmente, não redefiniríamos felicidade mas, pelo menos, subtraímos-lhe uns números. Ou juntávamos-lhe uns números, dependendo da perspetiva. Depois, bem… depois importaria perceber que impulso para a asneira é este que nos leva a preferir idolatrar um tolo qualquer, em vez de defender princípios e ideologias, precisamente as duas primeiras coisas a deixar cair, ainda que de forma velada, ao primeiro aceno de vida próspera e desafogada. Por fim, passávamos a ser, convenientemente, exigentes quanto à qualidade dos que elegemos para nos representar. Obviamente que a qualidade tem o seu preço, mas com o que pouparíamos em devaneios de chico espertismo haveria de chegar e sobrar. Sobrando, haveria de render. Olha, se não rendia! No mínimo, escusávamo-nos a que o nosso voto servisse apenas para verter mais um item num qualquer currículo. No máximo, tornávamo-nos no próprio currículo. Isso é que era. Ou, talvez possa vir a ser…