Recordo a posição do PCP no que concerne à candidatura da cidade da Guarda a Capital Europeia da Cultura em 2027 como oportunidade de desenvolvimento da nossa cidade e da região.
Infelizmente, persiste o erro de se pensar a Capital Europeia da Cultura como um evento que começa e termina sem deixar raízes. Tal terá que ser visto como um instrumento mais de implementação de uma política cultural democrática e acessível a todos, com impactos visíveis não só na vida da cidade, como na da região.
A realidade nua e crua das opções políticas da gestão municipal, alheadas da promoção e apoio às artes e focada em eventos, é escorada na ideia de que a “cultura” tem que fazer dinheiro. Em termos de política do património tudo é subordinado aos interesses económicos, muitas vezes privados, e do turismo. Não de um turismo que aproxime culturas e povos, mas de um turismo que faz do património um parque de diversões apenas ao alcance de quem pode pagar os preços cada vez mais elevados. O património deve, inversamente, ser encarado como uma construção coletiva do povo português, sendo reflexo e produto da sua própria história, tradição e cultura. Como tal, o acesso a ele deve ser garantido a todos os cidadãos.
Porventura a nossa candidatura deve nortear-se pelo objetivo da democratização cultural, enquanto componente do desenvolvimento humano, e porventura contribuir também na transformação da sociedade. Com a pandemia fica demonstrado que falta uma política cultural assente no exercício dos direitos e no reconhecimento das necessidades, aptidões e aspirações culturais da imensa diversidade da realidade do nosso concelho e região.
Os laços de proximidade das diversas comunidades rurais deveriam ser mais enraizados em toda a comunidade associativa para a concretização de uma política orientada por uma ação coerente com aquele objetivo, capaz de assegurar a fruição e criação culturais, a valorização do património cultural e das tradições populares, a diversificação de gostos e a elevação dos hábitos culturais, a iniciativa e produção dos agentes culturais locais e regionais, são de considerar como linhas de trabalho e orientações para o fortalecimento da nossa candidatura.
Para tal, é necessária a elaboração participada de estratégias de intervenção cultural assentes, sempre que possível, em estruturas e serviços próprios, dotados de meios humanos e financeiros, articuladas com a ação da autarquia em outros domínios com intervenção convergente. Não basta apregoar a importância de nova designação para uma estrutura física, mais estruturante e fundamental é a adequada articulação entre a rede de equipamentos e os planos com vista à sua expansão com a necessária definição de programas, projetos e iniciativas que assegurem a sua ocupação de acordo com os objetivos da política cultural.
Naturalmente que a promoção do nosso artesanato, enquanto expressão artística ligada às experiências de vida e de trabalho das populações, é um dos muitos exemplos. Foco-me na cestaria de Gonçalo, no quadro mais geral do levantamento das potencialidades de desenvolvimento económico de uma comunidade com a preservação e divulgação das raízes culturais locais, mas também da etnografia, das tradições e da cultura populares.
A importância da escola pública como vetor de investimento na formação de animadores, programadores e produtores de cultura com objetivos concretos a atingir, e na criação de públicos – deveríamos, particularmente, envolver mais a comunidade educativa na nossa candidatura.
Os alicerces da nossa candidatura carecem de uma ação mais reivindicativa em conjunto com os agentes e associações locais, exigir do Governo e da administração central os apoios e a assunção de responsabilidades que lhe competem no domínio das infraestruturas, do fomento e da produção culturais.
A política cultural que falta à Guarda
«Em termos de política do património tudo é subordinado aos interesses económicos, muitas vezes privados, e do turismo»