Portugal, tal qual o conhecemos, é um Estado unitário onde todos gozamos dos mesmos direitos e temos os mesmos deveres num exercício pleno de cidadania.
A sabedoria popular sempre vai acrescentando “cada terra com seu uso. Cada roca com seu fuso” e para cá do Marão mandam os que cá estão.
Torga interroga o grande oceano megalítico quando este ordena: Entra. Afinal, para lá do Marão mandam todos menos os seus naturais e, sem deixar de lado a ecuménica ação de bater no peito ou ir, em definitivo, ao “Perdoa-me” da SIC, vamos identificando inúmeros culpados, a começar desde logo pelos cães do sistema (depois admiram-se que o escarro que a democracia deixou parir tenha a pujança merdosa de aparecer em quase todos os grandes municípios deste país).
Brecht dizia «Todas as coisas no mundo são ridículas». Marx acrescentava «A História repete-se. A primeira vez como tragédia. A segunda como farsa». O estatuto é a coisa que ganha importância, ganha prestigio e dimensão contando sempre com o nascer cá, o ter raízes por cá, sendo sinónimo de uma conveniência e conivência conhecida de quem ostenta os galões de superioridade político-social que o coração manso, de manteiga beirã, permite e, tal como no conto de Saint-Exupéry, ei-los que saltitam de um lado para o outro, fixam-se cá, embora não conheçam o terreno, fingem apenas conhecê-lo e, fazendo jus ao ditado anarca “O que eles querem é a tua carcaça, eleitor”.
Neste concelho incrustado no contraforte da Serra da Estrela, por acaso, conhecem estas distintas personalidades tão bem escolhidas por nós:
Miller Guerra, Luís Barbosa, Fernando Cardote, António Vitorino, Vasco Valdez, Francisco Assis, Miguel Frasquilho, Paulo Campos, António José Seguro, Manuel Meirinho, Pina Moura, Arménio Matias, Almeida Santos, Veiga Simão, Maria Antónia, Álvaro Amaro e mais uns tantos que aterraram por cá, em serviços descentralizados do Estado, com visível e notório destaque para a presidência da ULS da Guarda. Já agora, apenas esta simples e inocente pergunta: Depois de servidos, voltaram a vê-los cá ou por cá, nem que fosse em simples visita de cortesia?
Deixemos de ser queixinhas. Vêm aí as eleições. Habituemo-nos à promessa eterna. Aquela que é servida com molho e que no cardápio traz inscrita a ementa de sempre: as costeletas de uma simples pulga e o coração de um piolho.
- Os partidos do sistema apresentam assim os novos protagonistas bem à altura do cargo e da situação. Aqui estão eles…
Do lado rosáceo temos a presença, douta e simpática, da atual ministra do Trabalho e Segurança Social, eleita deputada pelo círculo eleitoral da Guarda, presença assídua em quase todos os momentos importantes da vida da cidade e região que, como se sabe, tem raízes por cá. Brindou-nos, apenas e tão só, com uma Secretaria de Estado que a maioria dos guardenses não sabe lá muito bem o que efetivamente faz. Espero sinceramente que os discursos de apresentação da candidatura rosácea de sábado passado não tenham sido pensados e escritos pelo escriba de sempre ao serviço das grandes causas bicolores.
Do lado do laranjal contamos com a presença do antigo secretário de Estado passista, aqui sim, natural de cá, conhecido comissário de Oeiras 27, cidade candidata a capital Europeia da Cultura, que virá seguramente dar algumas lições aos senhores deste reino ensinando-lhes que não é apenas com uma ciclovia entre os 17 municípios aderentes e mais uma agenda cultural medíocre que o projeto se desenvolve e aprofunda, mas sim apostando no urbanismo, nas artes, na criatividade, na língua, no património e no envolvimento de toda a sociedade.
Produto final: A Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social do governo rosa vai ser candidata ao órgão máximo do concelho da Guarda, o mesmo acontecendo com o Comissário de Oeiras, cidade também ela candidata a Capital Europeia de Cultura 2027 e, a pergunta, neste último caso, é inevitável: O senhor comissário tem dois amores? E por acaso são iguais? Será melhor amar um sem a outro saber? É que isto de serem felizes os três só mesmo na canção do Marco Paulo.
E já agora mais uma perguntinha: Se a senhora ministra e o senhor comissário forem eleitos apenas e tão só deputados municipais ficarão por cá nos próximos quatro anos e se ficarem, numa atitude verdadeiramente altruísta do politicamente correto, virão a todas as assembleias ou irão argumentar, de forma mais ou menos convincente, a deslocação de vez em quando, no dia em que o rei fizer anos, isto é e claro está, tendo em conta as atarefadas agendas… C’os diabos!
Escrevia eu numa outra crónica: Depois de tudo isto, o melhor é pedirmos emprestada a ilha das Galinhas, levando para lá o cenáculo a fim de encenarmos outras formas de intervenção e protagonismo, a começar desde logo pelo fim do manhosismo político e, sem descartarmos a forca, bom mesmo é embrulhar alguns destes nesta folha de jornal, os tais que gostam de cantar o lá vamos cantando e rindo, substituído agora pelas cançonetas do Marco Paulo, pensando seriamente começar a trotear o hino da nossa permissividade. De bons gajos. De gajos porreiros…