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Trabalhadores parados na Sotave

Operários da empresa de lanifícios de Manteigas reclamam pagamento de salários em atraso

«Se trabalham não recebem, então não recebem mas também não trabalham». Os cerca de 200 operários da Sotave – Sociedade Têxtil dos Amieiros Verdes, S.A., sediada em Manteigas, continuavam na tarde da última terça-feira em frente àquela que é uma das maiores empregadoras do concelho serrano. Um dos principais motivos que levou a este protesto, iniciado na sexta-feira da semana passada, terá sido a existência de salários em atraso, garantem os funcionários.

Desde esse dia que os cerca de 200 funcionários da Sotave se apresentam na empresa, cumprem o horário de trabalho, mas não desempenham qualquer tarefa e mantêm as máquinas paradas. Armandino Susano, dirigente sindical, adianta que, com a entrada em vigor do programa FACE, foram «criadas expectativas» aos trabalhadores de que, no espaço de dois meses, «as coisas entrariam na normalidade», o que não veio a confirmar-se. Foram ainda criadas expectativas de que a 20 de Julho seria pago o remanescente do mês de Maio, mas a administração «não cumpriu», explicou o sindicalista. Fartos das «mentiras da administração», os trabalhadores resolveram não acreditar mais e parar até terem a situação resolvida. Assim, desde sexta-feira que os operários esperam uma resposta positiva dos responsáveis da Sotave, que «no entanto resolve não dar a cara como retaliação pelo facto dos trabalhadores terem parado», considera Armandino Susano. «Dizem que não dão a cara porque, uma vez que os trabalhadores pararam por vontade própria, não se sentem na obrigação de os esclarecer ou de dar soluções», adianta.

De resto, «desde há um ano para cá que tem havido salários em atraso», sendo que, neste momento, os trabalhadores estão com «metade» do mês de Maio em atraso, revela, indicando que Junho já está pago. No entanto, os operários entram de férias amanhã e temem ficar muito tempo sem receber: «Os trabalhadores vão para férias sem salário de Julho e sem o subsídio. Como o mês de Agosto não entra na participação do FACE, corre-se o risco de chegarmos ao final de Agosto com três meses e meio de salários devidos, o que é complicadíssimo para quem tem salários muito baixos», assegura. O representante dos trabalhadores acusa ainda a empresa de estar a tentar que os operários se «verguem pelo cansaço», mas garante que «podem tirar o “cavalinho da chuva” porque no fim de tantos escaldões, e muitos deles a ferver, não há tempo para os trabalhadores cederem», considera. «Se trabalham não recebem, então não recebem mas também não trabalham», promete. Armandino Susano denuncia igualmente que os requisitos do programa FACE «não estão a ser cumpridos». Pelo que os trabalhadores começam a sentir-se no direito de reclamar que «se acabe com o FACE», mostrando-se actualmente «muito disponíveis» para irem à Segurança Social ou ao Centro de Emprego «denunciar esta situação», avisa. Esta não é a primeira vez que a Sotave passa por algumas dificuldades. A administração reconheceu mesmo, em Maio último, a necessidade de se proceder a um «ajuste do número de trabalhadores». “O Interior” tentou obter um comentário dos responsáveis da Sotave sobre a paragem dos trabalhadores, mas tal não foi possível até ao fecho desta edição.

Ricardo Cordeiro

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