Mudou o cenário internacional: as sucessivas vitórias eleitorais da extrema-direita em diversos países ocidentais criaram um momento favorável.
Mudou a conjuntura nacional: os governos fortes afiguram-se mais atrativos em tempos de instabilidade político-económica e de incerteza quanto ao futuro.
Mudou o discurso: o nacionalismo e a xenofobia deixaram de ser os pontos de partida da argumentação e passaram a ser pontos de chegada de uma linha de raciocínio onde a verdade dos factos é o elemento menos importante.
Em paralelo, o discurso de natureza setorial de várias forças autodenominadas “progressistas”, assente em políticas identitárias que não se coadunam com uma visão holística da sociedade, oferece à extrema-direita uma sequência de palcos onde pode travar os combates ideológicos sensacionalistas que tanto aprecia.
Agravou-se o distanciamento entre os partidos políticos e a sociedade civil, entre o mundo da governação e o mundo real, entre os eleitos e os eleitores.
Prosseguiu a descredibilização da “classe política” com notícias de mais e mais casos (confirmados e por confirmar) de corrupção e favorecimento indevido de familiares e amigos.
Esse distanciamento e essa descredibilização têm facilitado a propagação do discurso populista assente na distinção entre o “nós” (povo) e o “eles” (“classe política”).
Parece uma contradição, mas já aconteceu e poderá acontecer novamente: é possível usar das liberdades garantidas pelos regimes democráticos para validar conscientemente uma redução ou anulação dessas mesmas liberdades.
Contestar a legalidade de um partido, mesmo obtendo um desfecho favorável, não elimina as ideias que ele veicula e em nada contribui para resolver o problema de fundo, sobre o qual esse partido se alimenta e cresce.
Então, perguntaria uma criança, qual é a resposta a dar ao crescimento da extrema-direita e do populismo de direita em Portugal?
(continua…)
Pedro Fonseca
Ex-presidente da Federação Distrital da Guarda do PS