Esta semana, dirijo-me ao leitor como naquelas conversas em que não temos absolutamente nada para dizer, e começamos por “esta semana esteve fresquinho, não foi?”. Bem sei que o leitor perguntará espantado se alguma vez houve realmente verdadeiros assuntos nesta coluna, e que, se teve, o leitor nunca terá dado conta. A essa insinuação, eu respondo, “está bem, Mãezinha, mas repara que a parte das cenouras que nós comemos são as raízes.” Conteúdos informativos não é só na coluna das mitocôndrias.
A verdade é que esteve mesmo ligeiramente mais fresco aqui do que na Beira Interior. Na última semana, as temperaturas em Vilnius variaram entre os 15 e os 22 graus abaixo de zero, mas este fim-de-semana já se prevê um clima mais ameno, com uma subida para a quase primaveril temperatura de menos 8 graus.
No Natal desconfinado e à balda que os portugueses celebraram, a minha irmã ofereceu-me um pijama quente, julgando que seria necessário para aquecer o corpo dentro de casa. Mal sabia ela o imenso jeito que esse pijama daria na hora de sair à rua. Há alturas na vida em que uma pessoa tem de assumir as suas opções. Sim, eu tenho usado ceroulas para ir comprar pão.
Viver em países diferentes oferece perspectivas novas sobre a realidade. Por exemplo, na casa onde moro, o quarto e a sala têm uma grande janela, que fica ao nível da rua. Nenhuma das janelas tem portadas, persianas exteriores ou grades. Num momento de hesitação, perguntei ao dono da casa se a zona era segura, já que qualquer pessoa poderia partir o vidro e entrar pela casa dentro. A resposta espantada foi, “mas por que razão alguém haveria de fazer isso?” O homem ainda agora deve pensar que, nesse país de selvagens de onde venho, passamos a vida a roubar a casa uns dos outros.
Nuno Amaral Jerónimo está em Vilnius a convite da Vilnius Tech University
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia