Uma semana após o apagão que ficou para a história da Guarda, os números dos prejuízos causados a comerciantes e empresários continuavam a chegar «em catadupa» à Associação Comercial (ACG) e ao NERGA – Associação Empresarial da Região da Guarda. Estas estruturas só esperam poder avançar com um montante dos danos sofridos pelos seus associados no início da próxima semana, altura em que poderão estar igualmente identificada(s) a(s) causa(s) do curto-circuito, seguido de incêndio na sub-estação que abastece a cidade. O que aconteceu depois correu o país, porque não é todos os dias que uma cidade está 15 horas sem energia eléctrica.
A Guarda ficou literalmente a ver estrelas na madrugada da passada quarta-feira, tendo perto de 70 por cento da sua população permanecido sem luz até ao princípio da tarde de 1 de Junho. Passado o lado romântico e inédito do acontecimento, os guardenses continuam à espera de uma explicação para que uma cidade com quase 30 mil habitantes tivesse ficado tanto tempo sem energia. O Ministério da Economia também e nesse mesmo dia solicitou, com carácter de urgência, um auto de averiguação sobre o ocorrido. O director-geral de Geologia e Energia e o director regional de Economia da Região Centro ficaram encarregues dessa missão, enquanto o presidente da EDP foi incumbido de dar uma explicação «cabal» do sucedido à população da Guarda, para além de avaliar os danos eventualmente causados pelo incidente na cidade. A empresa emitiu um comunicado ao final da tarde para garantir que os clientes prejudicados terão direito a uma compensação, a creditar automaticamente na factura, desde que provem que a duração da interrupção do fornecimento de energia tenha sido superior a seis horas.
Fogo na subestação
O documento narra ainda o que aconteceu na subestação entre as 22 horas de 31 de Maio e as 13h45 de 1 de Junho. «Devido aos gases libertados e aos trabalhos desenvolvidos pelos bombeiros para combater o fogo, parte desta instalação, incluindo um transformador de reserva, ficou temporariamente inoperacional», refere o comunicado. A EDP garante ter mobilizado «de imediato» os meios necessários para recuperar a instalação e procedeu à reconfiguração da rede eléctrica, de modo a repor «progressivamente», com o recurso a redes adjacentes, o fornecimento de energia eléctrica a partir das 23 horas. «Esta situação ficou normalizada apenas pelas 13h45 de 1 de Junho dado que houve necessidade de proceder à substituição da cablagem do sistema de comando e controlo que ficou totalmente destruída pelo incêndio». O apuramento das causas do curto-circuito fica para mais tarde. Assim espera a Câmara da Guarda, cujo presidente ficou satisfeito com a decisão do Governo.«É uma opção que reforça a legitimidade da nossa preocupação. Vamos aguardar pelas suas conclusões e justificações», disse Álvaro Guerreiro. «Foi-nos dito que as causas são de índole técnica e ainda não estão absolutamente determinadas. Mas a EDP, como gestora do sistema, terá que explicar o que aconteceu realmente», garante.
No entanto, quem já deitou contas à vida por causa desta factura inesperada foram os proprietários de padarias, pastelarias, restaurantes, bares, talhos, peixarias ou postos de combustíveis. Muitos comerciantes viveram uma noite de pesadelo devido à falta de electricidade. A manhã revelou isso mesmo: uma cidade quase sem pão, bolos ou café, enquanto os talhos evitavam abrir as arcas frigoríficas. Pelo vistos, o apuramento dos prejuízos continua. A ACG e o NERGA disponibilizaram apoio jurídico para que os lesados preencham «correctamente» os pedidos de indemnização, adiantou Jorge Godinho, presidente da Comercial. «Há muita gente a contactar-nos», garantiu, considerando «positivo que a EDP tenha dito que vai assumir os prejuízos». Entretanto, o PCP já veio criticar o que se passou na Guarda, considerando que o apagão é «uma consequência directa da privatização da EDP», empresa que acusam de ter passado a reger-se pelo «lucro máximo, fechando serviços, despedindo pessoal técnico e deixando a manutenção e os investimentos para segundo plano».
Luis Martins