P – É a primeira vez que a Guarda 2000 participa no Nacional da IIª Divisão de futsal feminino depois de várias presenças na Taça Nacional. O que muda este ano?
R – O que mudou é que, com a interrupção da Taça Nacional em março, devido às restrições impostas pela DGS por causa da Covid 19, os clubes campeões distritais ficaram impossibilitados de serem promovidos ao Campeonato Nacional. Em consequência, esses mesmos clubes uniram-se junto da FPF para que fosse criada esta nova competição, uma prova que, na minha opinião, muita falta fazia ao futsal feminino, pois este escalão intermédio entre os distritais e a Iª Divisão Nacional faz com que a diferença seja menor, aumentando o equilíbrio entre as equipas, fazendo crescer o nível competitivo e ao mesmo tempo preparando melhor as equipas para uma prova com a exigência da Iª Divisão. É assim que surge a IIª Divisão Nacional, mas com apenas metade das equipas campeãs distritais, o que obrigou a um “play-off” de acesso com 24 equipas. Doze foram promovidas e as restantes regressaram aos distritais. Não sendo o modelo mais justo, porque todos os campeões distritais mereciam jogar esta prova no seu ano de estreia, tivemos de aceitar e preparar-nos para ir à luta. Disputámos esse apuramento com a Académica de Coimbra (campeã de Coimbra), com o Gafanha (campeã de Aveiro) e com o Valverde (campeã de Castelo Branco). Por tudo aquilo que essas equipas representam no panorama do futsal feminino nacional, partíamos para este “play-off” claramente como “outsiders”, mas muito confiantes nas nossas capacidades. E definimos uma matriz de jogo que nos permitisse jogar olhos nos olhos com qualquer equipa, e foi o que fizemos, o que nos permitiu este histórico apuramento – e digo histórico porque a cidade da Guarda não contava com uma equipa sénior nos Nacionais há algum tempo, muito menos no feminino.
P – Qual é o vosso objetivo? É possível ambicionar pela manutenção?
R – Conscientes do valor dos adversários e de todas as dificuldades que vamos encontrar, pela qualidade que evidenciou na prova de acesso, a Guarda 2000 parte para esta competição com o claro objetivo da manutenção. Digo isto não para parecer bem, mas convicto daquilo que são as nossas capacidades e também por todo o crescimento competitivo que esta equipa tem evidenciado nos últimos anos. E, sinceramente, espero já no dia 9 de janeiro, na Maia, poder confirmar aquilo que são as nossas pretensões nesta prova.
P – Ser tetracampeão distrital é suficiente?
R – É um feito inédito no clube, mas que faz parte do passado. O objetivo para esta época era mesmo não ter a possibilidade de poder ser pentacampeão porque era sinal que nos tínhamos qualificado para a IIª Divisão Nacional e não teríamos de jogar o campeonato distrital, tal como, felizmente, veio acontecer. Atualmente, o objetivo da equipa é ser o mais competitiva possível para poder continuar a jogar na IIª Divisão Nacional nos próximos anos.
P – Quais são as principais carências, em termos desportivos, da Guarda 2000?
R – Somos um clube com alguma experiência em provas nacionais e, como tal, estamos cientes das dificuldades para estas equipas se afirmarem no panorama nacional da modalidade e que passam muito pela dificuldade que a Guarda tem na fixação dos seus jovens. Contudo, esta direção sempre teve a capacidade de olhar para as soluções e não para os problemas que as equipas do interior normalmente encontram a este nível. Como tal, prefiro valorizar o esforço que a direção tem feito para que o grupo de trabalho tenha todas as condições para treinar e jogar a este nível. Isto só é possível graças ao muito empenho e profissionalismo da direção, que, com o apoio dos sócios e patrocinadores, tem levado a bom porto este projeto. Quero aqui deixar também uma palavra de agradecimento à Câmara da Guarda por toda a disponibilidade demonstrada na cedência dos espaços para podermos treinar sempre nas melhores condições e dos transportes para os jogos fora.
P – Quem é, ou são, o(s) favorito(s) na Série Norte?
R – Será uma série com seis equipas bastante equilibradas, todas com características diferentes, mas com objetivos idênticos. Mas a minha previsão, tendo em conta a qualidade dos seus plantéis, é que o Tebosa (Braga) e a Académica de Coimbra irão lutar pelo lugar de acesso à Iª Divisão. As restantes (Guarda 2000, Maia Futsal, Gondomar e Macedense) lutarão, na minha opinião, pelas duas vagas que asseguram a manutenção.
P – Como vê o futsal distrital em geral, e o feminino em particular?
R – O futsal distrital está neste momento a viver uma crise profunda, que esta pandemia veio piorar. É com muita pena minha que vejo vários clubes a desistir, ora por vontade própria, ora porque os municípios a isso obrigam. O processo evolutivo do futsal na região está muito dependente do trabalho desenvolvido e a desenvolver nos escalões de formação, e nos últimos anos a Associação de Futebol da Guarda tem feito um trabalho importante junto dos clubes para conseguir ter campeonatos em todos os escalões de formação, o que permite maior sustentabilidade em termos de crescimento nos atletas diferente daquela que tem acontecido de há uns anos a esta parte. A prova disso mesmo é a dificuldade que os clubes de futsal têm sentido a nível sénior, pagando bem caro o desinvestimento na formação em anos anteriores. Tenho a perfeita noção – e faço aqui um apelo aos clubes – que o caminho a seguir terá de passar por uma aposta forte nos escalões de formação para que o futsal distrital seja mais competitivo, mais capacitado e preparado para acompanhar o crescimento evidenciado nos outros distritos. Refiro-me não só ao masculino, como também ao feminino, embora este último tenha crescido bastante nos últimos anos, não só no número de praticantes, mas também em termos de qualidade.
Perfil de Marco Santos
Treinador da equipa de futsal feminino da Guarda 2000
Idade: 39 anos
Naturalidade: Fernão Joanes (Guarda)
Profissão: Funcionário público
Currículo: Dirigente associativo na ACR Fernão Joanes; Jogador de futebol/ futsal de 1993/1994 a 2015/2016; Treinador de futsal UEFA B, grau II, desde 2016; Selecionador distrital de futsal masculino nos escalões de sub-15 e sub-17 da AF Guarda
Filme preferido: “Gladiador”, de Ridley Scott
Hobbies: Desfrutar ao máximo o pouco tempo que tenho com a família