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O Risco

Saliências

O risco de isto me matar é grande? Perguntou ansiosa Laura ao senhor de bata na sua frente. Disse que talvez, deixou muitas dúvidas, algumas hipóteses e um futuro incerto que nasceria de umas análises ainda por fazer. Laura carregou aquelas dúvidas para casa e telefonou a dois amigos entendidos nas matérias. Viram-lhe numa análise uma alteração, mas não sendo perigosa hoje, poderia ser um dia. Laura não se imaginava a ser vigiada, a ter consultas de rotina para certificar da benignidade. Isto do risco é muito complexo e por essa razão Laura nunca mais se lembrou que riscos há quando atravessamos a rua, que eles existem ao acender o fogão, que as chaminés por limpar podem arder, que os pneus do carro devem ser aferidos, que os terramotos existem em Lisboa. Há um risco permanente em se estar vivo e estas lesões são um problema mais com o qual temos de viver. Mas que fazíamos nós se alguém nos lesse um relato suspeito numa análise do intestino? E aquele nódulo da mama? O risco e a ansiedade vivem de mãos dadas e não há fórmulas de dissociação. Os receptores aparentemente recebem informações múltiplas e produzem informação diversa pelos mesmos canais. Assim vai a dor de braço dado com a ansiedade. Às duas se junta o medo e uma pitada de adrenalina. Esta pessoa assim tratada jorra impaciência e intolerância. O complexo da situação é que não há fórmulas para decidir, e há um limbo onde as contas do risco são impossíveis. “Risco é estar vivo” diz muita gente. Eu insisto em que a vida é um apetite de sensações arriscadas.

Por: Diogo Cabrita

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