Cara a Cara

«“O Bisavô” é um livro da Guarda»

Escrito por Jornal O INTERIOR

Entrevista a Maria João Lopo de Carvalho, Autora do livro “O Bisavô”

P – Que Guarda se pode descobrir no seu livro?
R – Isto é um recuar à Guarda que todos fomos, às minhas origens, às minhas raízes. Eu tentei reconstruir e humanizar estas personagens e contar como é que as coisas se passavam num período tão importante como foi o que ficou da monarquia à República, passando depois por todos os acontecimentos da Primeira República, pela primeira Grande Guerra e acabando na Guerra Civil Espanhola. Isto só para encurtar etapas porque passaram-se muitas coisas politicamente, historicamente, socialmente, a evolução dos costumes, a evolução do papel da mulher e tudo isso. O que eu fiz foi enquadrar as personagens da minha família Lopo de Carvalho, Caroça, Patrício e Ribas numa história maior: na história da cidade, na história de Portugal, na história da Europa. Isto tudo é que faz o fresco que eu tentei “pintar” e espero que as pessoas gostem.

P – Como conseguiu retratar esse período?
R – É o meu quinto romance histórico e por isso já tenho algum traquejo e, este em especial, talvez tenha sido o meu livro mais emotivo, o mais escrito com sangue, porque fala das minhas próprias raízes e através dele percebi muito daquilo que eu sou. O que acontece é que tive quatro anos no processo de investigação até ao final da escrita, em que tive o apoio incondicional da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, na pessoa da sua coordenadora, a dra. Dulce Helena Borges, e também o apoio todo da Câmara Municipal. Consultei muitos e muitos arquivos, houve muitas pessoas aqui da Guarda que me ajudaram a descortinar a geografia, as vistas, muitas leituras, muita pesquisa, muitas memórias vividas, fui a muitos sótãos, abri muitos baús com fotografia antigas, falei com muita gente… E depois é perceber que ninguém daqui foi santo e por isso tenho uma família muito desobediente, que contrariou muito a força do seu destino e uma família com muita garra de que tenho imenso orgulho. Em particular do meu bisavô Lopo de Carvalho, que construiu o Sanatório e curou tantas e tantas pessoas da tuberculose e mais tarde da pneumónica.

P – Porque decidiu escrever sobre o seu bisavô?
R – Porque só são precisas quatro gerações para esquecermos um bisavô, eu estou no fim da linha, sou a quarta geração, sou uma das mais novas e era agora ou nunca. Por isso eu quis que esta história não morresse inédita e fui recriá-la e ficará para as pessoas da Guarda. Em particular, este é um livro da Guarda e que eu ofereço como presente de Natal à cidade e aos seus habitantes porque é uma história onde eu estou presente da primeira à última folha com toda a minha emoção. E quis mesmo que ficasse escrita para todos na cidade e para os meus netos, bisnetos e que continue por aí a nossa família.

P – Acha que o livro vai ser ou está a ser devidamente reconhecido pela cidade?
R – Só o facto de estar a fazer a sua apresentação nacional nas comemorações do Dia da Cidade, em que assinalamos 821 anos do foral e 150 anos do nascimento do meu bisavô, é um marco. Quando lanço os meus livros sou sempre muitíssimo bem acolhida na Biblioteca Eduardo Lourenço, na cidade e nas escolas. Tenho muitos amigos na Guarda, esta é a minha terra e não posso estar mais orgulhosa e mais contente do acolhimento que a cidade sempre me dá em todos os meus livros e em particular neste.

P – Qual é atualmente a sua relação com a cidade?
R – Primeiro, uma enorme honra em estar aqui no Dia da Cidade e depois é a minha cidade. Eu moro em Lisboa, mas todas as minhas férias são passadas aqui, na aldeia, na casa que era dos meus pais e agora é da minha irmã. Portanto, é natural, é a minha terra e por isso é uma enorme honra regressar.

P – Qual foi a reação da restante família quando tiveram conhecimento do livro?
R – Agradeceram-me, que era uma coisa que não estava à espera. Estava cheia de medo do julgamento da família e das coisas que eu descobri, mas que não são ilícitas, são só maneiras de ser de pessoas desobedientes. Uma história de amor belíssima da minha tia-bisavó que fugiu no dia do casamento com a pessoa que realmente amava e só isso já nos vinga a todas as mulheres, imaginem isso a acontecer no fim do século XIX. Até agora, ainda nem todos acabaram de ler, mas estão a gostar e sobretudo estão admirados com o trabalho que deu e estão agradecidos pelo trabalho que deu. Acham que estão a viver aquelas cenas como se estivessem presentes, dizem que eu humanizei bem as personagens e que descrevi os diálogos de uma forma muito viva, o que faz vivê-las intensamente como se estivessem mesmo a presenciar aquela cena e, claro, isso enche-me de comoção.

Perfil de Maria João Lopo de Carvalho

Autora do livro “O Bisavô”, romance histórico e biográfico de Manoel Caroça, natural do concelho da Guarda e bisavô da autora

Idade: 58 anos

Naturalidade: Lisboa, mas da Guarda por coração

Currículo: Formada em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade Nova de Lisboa; Trabalhou como professora na Câmara Municipal de Lisboa, na área de Ação Social e Educação; Trabalhou em publicidade e tem mais de 70 livros editados

Livro preferido: “Os Lusíadas”, de Camões

Filme preferido: “Out of Africa”, de Sydney Pollack

Hobbies: Ler

Sobre o autor

Jornal O INTERIOR

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