A espiral de crescimento de contágios nas últimas semanas por todo o país é impressionante. Depois de uma primeira vaga em que houve aquilo que se designou de “achatamento” da “curva”, conseguindo que os serviços de saúde se mantivessem longe da rutura, Portugal está agora entre os 10 países da Europa com maiores dificuldades na contenção do vírus.
Há pouco mais de um mês era impensável que Portugal tivesse mais contágios, per capita, que Espanha ou outros países europeus que há muito se debatiam com taxas elevadas de infeção. Inacreditavelmente, Portugal superou Espanha e superou outros países estando neste momento com uma taxa acima da média europeia. A Fórmula 1, as idas ao surf na Nazaré ou os espetáculos no Campo Pequeno confirmam os disparates na gestão da pandemia, mas não justificam os erros de planificação e a má comunicação do Governo e da DGS. A ministra Marta Temido, na sua ânsia de afirmação ideológica, excluindo o envolvimento do setor privado da saúde na resposta à pandemia; a diretora-geral de saúde, Graça Freitas, com as suas posições erráticas e tergiversando nas orientações médico-sanitárias, há muito deviam ter sido substituídas.
Não é fácil para nenhum Governo gerir uma pandemia. E não é fácil escolher entre a saúde e a economia, quando a morte da economia significará a morte do rendimento de milhões de pessoas. Mas as medidas de confinamento, já se percebeu há muito, são a única forma para resistir à propagação contínua do vírus.
O passado fim de semana deveria ter sido de encerramento integral do país durante dois dias para podermos trabalhar durante a semana. E a forma como a maioria dos portugueses responderam, ficando em casa, confirma que as pessoas sabem que têm de ser parte da solução. O que não faz sentido é ficar em casa à tarde e durante a noite e na manhã de domingo ir às compras em manada.
A morte da economia, em quase todos os setores, é um dado adquirido. O Estado tem de assumir e pagar às pessoas, garantindo o sustento dos trabalhadores. Não há outro caminho. As empresas não têm como sobreviver e os cidadãos têm de ser ajudados para sobreviverem. Depois, o Estado terá tempo para fazer as contas com cada um, mas agora tem de ajudar todos, as empresas e os trabalhadores, com apoios diretos e redução de carga fiscal às empresas. Se o Estado paga integralmente aos funcionários públicos, inclusive aos que ficam em casa sem trabalhar, terá de ser o Estado, também, a pagar aos trabalhadores do privado pois as empresas não conseguem gerar receitas para pagar os seus custos de exploração (nomeadamente os impostos e os salários). Não se trata de defender uma política de subsidiação à economia, trata-se de defender o óbvio, que é preciso garantir a sobrevivência da população, para poder promover a saúde de todos – não pode haver isolamento e confinamento sem pão para comer, e é o estado que tem que assegurar essa sobrevivência.
Cinco concelhos da região (quatro do distrito da Guarda) estão entre os 10 com mais infetados por Covid-19 da região Centro (por 100 mil habitantes). É urgente perceber isso. É responsabilidade das instituições promover a gestão das medidas higieno-sanitárias e de segurança, mas é determinante o sentido de responsabilidade das pessoas. Sem que todos tenhamos cuidados redobrados será mais difícil lutar contra o vírus. Enquanto todos ansiamos pela vacinação, a realidade ainda vai ser dolorosa durante os próximos meses…