Os seres humanos podem estar previamente construídos por uma sequência incontrolável de quantidades, especificidades, recetores, frenadores e libertadores, proteínas, que condicionam toda a sua existência. Esta verdade é tão segura como o paradigma moderno que podemos alterar funções e definir caminhos com o comportamento e a relação. Na melhor das hipóteses as duas são concomitantes. David Hume e a diferença entre perceções e impressões, dava já um mote sobre a profundidade do inerente sobre o que era experimentado. Thomas Hobbes também projetava o homem sem qualidades que podia ir aprendendo a ser melhor, balizado por uma aprendizagem e pela lei. Mas nascemos definidos? A ideia é que se o metabolismo está todo condicionado ao tamanho dos órgãos, à capacidade de regulação por ciclos e por transportes ativos melhores ou piores, também o pensamento está condicionado, e as emoções por inerência, à subjugação química e elétrica das trocas celulares, das fronteiras entre tecidos, ou barreiras como a placentar, como a hemato encefálica, a alvéolo capilar. Esta verdade produz um malefício – nascemos predeterminados.
E isto será verdade? A descodificação do genoma humano tem tido travessuras que identificam predisposições para cancros, para capacidade de resposta a tratamentos, para identificação de problemas e escolhas que se herdam. Aqui chegamos ao momento mais brutal: o pedófilo pode ser uma determinação, uma pulsão incontrolável, tal como a descreve Vladimir Nabokov no incrível “Lolita”. E sendo verdade a predeterminação, todos serão tratados dessa tendência perversa e odiada, mas não escolhida. E depois disso? Vamos todos querer ser iguais e formosos e inteligentes? Claro que sim!