Quando, há aproximadamente 8.500 anos, os primeiros agricultores oriundos do Médio Oriente chegaram à Europa não levaram só um novo estilo de vida, mas também lançaram as bases de uma profunda modificação genética, fisiológica e anatómica das futuras populações europeias. Esta é a principal conclusão de um estudo que apareceu na famosa revista científica “Nature” em finais de 2015, no qual se analisava a marca da seleção natural no genoma dos habitantes de Euroásia após a introdução da agricultura.
Em vez de se basear no ADN das populações atuais, retrocedendo e reconstruindo as mutações ocorridas há milhares de anos, um grupo internacional de investigadores recolheu a maior série de material genético de homens que viveram na Antiguidade. Deste modo, o grupo conseguiu avaliar, em condições ideais, os mecanismos e meio de ação da seleção natural durante as transformações ambientais impostas pela introdução da agricultura.
Em particular, através do uso de sofisticadas técnicas de extração do ADN, os investigadores sequenciaram e compararam o genoma de 230 indivíduos caçadores-recoletores da Europa Ocidental, de nómadas das estepes da Ásia Central e de agricultores da Anatólia.
Graças a esta grande quantidade de dados foi possível identificar os genes individuais envolvidos numa ou mais mutações, tanto durante como depois da transição de um estilo de vida baseado na caça e na recoleção para um estilo assente em práticas agrícolas.
Como era previsível, dada a importante introdução de novos alimentos na dieta diária, muitos dos genes modificados estão associados a funções digestivas, como a possibilidade de assimilar os ácidos gordos e de metabolizar a lactose na idade adulta, mas também ao aumento do risco da doença celíaca. Outros genes identificados relacionam-se com os traços físicos típicos dos europeus, como o aumento da altura e a cor mais clara da pele e dos olhos.
Outros genes selecionados positivamente durante esta etapa estão associados ao reforço das defesas imunitárias: o período imediatamente a seguir à revolução agrícola coincide, de facto, com um aumento significativo da população humana, bem como com um aumento do contacto direto com animais domésticos. Estes fatores favorecem a proliferação e difusão de agentes responsáveis por doenças.
No conjunto, estes resultados podem considerar-se a confirmação de como muitas características anatómicas e fisiológicas da atual população europeia tiveram a sua origem com a adoção de um novo estilo de vida, imposto por uma inovação cultural fundamental como é a agricultura.