Região

Fruticultores com quebras na produção e nas vendas

Escrito por Jornal O Interior

A fruticultura marca o Verão na Beira Interior. Um conjunto de caraterísticas do solo e, até então, o clima, entregam campos verdes seguidos do colorir dos pomares

Na Beira Interior há pêssegos, cerejas, uvas, maçãs, pêras, framboesas, mirtilos e outras tantas frutas à escolha. A produção de frutas como o pêssego e o mirtilo é condicionada por ser uma atividade sazonal. Envolve azáfama durante o verão para dar a todos a «fruta da época». Ainda assim, há quem resista e persista neste trabalho, embora neste momento com algum desânimo por causa dos prejuízos causados pela intempérie do final de maio.

Em Orjais (Covilhã), Lurdes Carapito produz e comercializa maçã, pêssego e pêras de diversas variedades, mas afirma que «este ano está a ser diferente». Afetada pela crise pandémica, a produtora depara-se com a diferença nas vendas, desde logo porque um revendedor «que faz os mercados» levou menos de 50 caixas quando antes levava duzentas por semana. «Ele vende em diferentes pontos do país, como Algarve e Lisboa, mas não as conseguiu vender todas», lamenta Lurdes Carapito, para quem esta redução «substancial» se deve ao facto das pessoas irem cada vez menos aos mercados. «Estamos com muita dificuldade em vender», afirma. Os fruticultores foram também afetados pelas temperaturas muito altas que se têm sentido: «Estas temperaturas muito frias na floração e de calor extremo na maturação complicam tudo», explica a produtora, que se queixa que a situação está «cada vez pior, porque o clima muda de ano para ano».

Francisco Manuel, outro fruticultor de Orjais, confirma que o tempo já não é certo e adianta que «as árvores sofrem muito com estas horas de calor extremo, elas não sabem como se comportar». O produtor reduziu a produção de pêssego por causa do clima e agora concentra-se mais na uva. Na sua opinião, tem que haver um equilíbrio entre a temperatura máxima e a mínima: «Para termos uma boa produção de fruta a diferença de temperatura do dia e da noite tem de ser a menor possível», explica Francisco Manuel.

Temperaturas extremas resultam num ano de quebra na produção

Estamos «perante um ano de quebra na produção» devido a condicionantes climatéricas porque «o calor extremo queima a fruta», em especial o pêssego e a pêra, explica Filipe Costa, gerente da Cerfundão, entidade comercializadora de frutas da Cova da Beira.

Pelo terceiro ano consecutivo a cultivar a quinta herdada do pai, Lurdes Carapito afirma ter produzido «10 toneladas de pêra no primeiro ano», já no segundo ficou-se pelas cinco toneladas e «este ano se tiver duas toneladas é muito». A recuperação dos prejuízos tarda devido à dificuldade de venda durante os dois meses do confinamento que paralisou a economia. O Governo anunciou apoios para os produtores, mas Lurdes Carapito lamenta que «não apoiam os pequenos produtores, que são quem mais precisa». No seu caso, apesar das contrariedades, a agricultora não se resigna, mas admite que «está a ser complicado». «Disseram-nos que vem aí um apoio, que até podia pedir uma ajuda, por exemplo, 1.000 euros, mas funcionam como empréstimos e depois não pago só os 1.000 euros. Isso não resolve problema algum», critica Lurdes Carapito.

Além disso, «há muita gente que não olha à qualidade da fruta, mas sim ao preço. Como nos hipermercados, levam o que é de Espanha, que é mais barato», constata, lembrando que «os produtos que aparecem no supermercado já levaram muito trabalho, não vão para lá milagrosamente».

«O que ganhamos é para a despesa», declara a fruticultora. E até as expetativas que podiam ser animadoras para o Verão devido à vinda dos emigrantes dissiparam-se porque «quem passava aqui levava quilos e quilos de fruta e agora não. Já nem param».

Fátima Santos

Sobre o autor

Jornal O Interior

Leave a Reply