José Cunha é até agora o único elemento do actual Conselho de Administração (CA) do Hospital Sousa Martins a colocar o lugar à disposição. A directora Isabel Garção, cuja comissão de serviço termina em Julho de 2006, já disse que não conta sair tão depressa e «até ordem em contrário». O mesmo acontece com Luís Figueiredo, administrador-delegado, que continua impávido e sereno no lugar. Uma situação que o director clínico não entende: «Eles também ocupam cargos com uma componente política pelo que se esperava outra atitude, até para não prejudicar o hospital e facilitar à nova tutela uma decisão mais célere», refere.
O médico pneumologista entregou dia 14 o pedido de demissão ao novo ministro da Saúde, mas aguardava, a par do enfermeiro-director, a nomeação para o cargo desde 1 de Julho de 2003. Um contratempo que não estranha, considerando-o antes revelador de que a «intenção era substituir-nos a qualquer momento, o que só não aconteceu porque ninguém se disponibilizou», diz, acrescentando que os executivos do CA foram os únicos nomeados nessa altura. Está claro que José Cunha, também militante do PSD local, sai em rota de colisão com os restantes dirigentes hospitalares, que acusa de «falta de lealdade» e de «intromissão» em áreas técnicas da sua responsabilidade. «Assumi funções contra a vontade de algum poder local e de certos elementos do CA, pelo que o nosso relacionamento era problemático. Mas, ultimamente, a minha actividade começou a ser beliscada por comportamentos demasiadamente intrometidos em áreas técnicas», adianta, escusando-se a referir quais. O médico, há 20 anos no Sousa Martins, esteve 30 meses na função de director clínico e entende sair com a «missão cumprida», admitindo que a actividade funcional e técnica do hospital está agora «mais enriquecida». Cita como exemplo a ligação do hospital à Faculdade de Medicina da UBI e a «melhoria» da parte assistencial e formativa na unidade guardense.
Na sua opinião, o desenvolvimento do Sousa Martins só acontecerá quando houver uma «articulação em complementaridade com os os hospitais vizinhos de forma a potenciar o surgimento de serviços de qualidade, pois não nos faltam argumentos para sermos pioneiros». Acredita, de resto, que o futuro terá que passar pela criação do grupo hospitalar da Beira Interior, «assente em parcerias entre os quatros hospitais existentes». O mandato de José Cunha ficou marcado por várias polémicas e muita contestação. Em Março de 2004 decidiu encerrar a maternidade por falta de médicos. Contudo, o serviço foi reaberto em 24 horas por Isabel Garção, directora da unidade, que se demarcou publicamente daquela decisão. Nesse mês, foi ainda acusado de favorecimento por o filho ter ganho mais de 11 mil euros pela prestação de serviços ao hospital. Em Dezembro passado, exigiu «mais trabalho e menos horas extraordinárias» aos médicos e obteve um abaixo-assinado em que dois terços dos clínicos o consideravam «altamente prejudicial» para a instituição. «Agudizou-se alguma reacção à minha função, mas sinto que cumpri o meu dever», admite, esperando que Correia de Campos possa agora escolher com «maior celeridade» o seu sucessor.
Luis Martins