Cerca de metade dos medicamentos receitados na região Centro são desperdiçados por excesso das quantidades prescritas ou por decisão dos doentes, revela um estudo divulgado na passada terça-feira. A Ordem dos Farmacêuticos, uma das entidades promotoras do estudo, estima que em termos monetários em Portugal o desperdício do medicamento ascenderá a cerca de 1,5 mil milhões de euros por ano. Sendo que este indicador é um reflexo do que se passa a nível nacional.
Num universo de 173 utentes a partir dos 18 anos, que utilizaram o medicamento pela primeira vez ou que não o tivessem tomado há menos de três meses, os investigadores concluíram que «49,7 por cento do receitado não foi utilizado». O estudo abrangeu cerca de meia centena de utentes das farmácias dos distritos de Aveiro, Coimbra, Castelo Branco, Guarda, Leiria e Viseu. A idade média dos pacientes foi de 47 anos, mas a maioria pertencia ao grupo etário com idades a partir dos 65 anos. Quanto ao tipo de medicamentos alvo do estudo, foram seleccionados aqueles cujo desperdício pode originar riscos para a saúde, os que constituem elevado encargo para o Estado e utentes, os de utilização frequente e aqueles muito receitados, mas de eficácia discutível. O estudo começou pela avaliação da proporção de medicamentos receitados e não utilizados, por inadequação das quantidades prescritas ao tempo de tratamento necessário. Mas também na proporção de medicamentos que não foram utilizados pelos doentes, por desrespeito ao tratamento prescrito pelo médico. «A prevalência global do desperdício com os medicamentos estudados na amostra em estudo foi de 49,7 por cento. A proporção de desperdício relativa à prescrição foi de 30,1 por cento, e de 45,7 por cento durante a utilização», referem as conclusões dos cinco investigadores envolvidos, ligados ao Centro de Estudos de Famacoepidemiologia da Associação Nacional de Farmácias e ao Núcleo de Farmacovigilância do Centro (formado pela Administração Regional de Saúde do Centro e as faculdades de Farmácia e Medicina da Universidade de Coimbra).
Segundo aqueles investigadores, o desperdício na prescrição poderá justificar-se na inadequação das embalagens ao tempo de tratamento. Por sua vez, o desperdício na utilização do medicamento poderá estar relacionado com questões ligadas à terapêutica, à ocorrência de efeitos indesejáveis e à percepção que o doente tem do seu estado de saúde. «Os grupos terapêuticos com maior proporção de desperdício foram os anti-inflamatórios e anti-reumatismais (100 por cento), seguido dos analgésicos (83,3 por cento). O grupo dos antibióticos, apesar de ser o grupo com proporção de desperdício mais baixa, apresentou ainda uma proporção não negligenciável de 19,6 por cento», lê-se nas mesmas conclusões. A recolha de dados decorreu entre 30 de Setembro e 12 de Outubro de 2002, e os cerca de dois anos e meio decorridos até à sua divulgação pública foram justificados, com o facto de os envolvidos terem outras ocupações, se encontrarem em cidades distintas e necessitarem de tempo para a validação da informação. Para o presidente da secção regional do Centro da Ordem dos Médicos (OM), José Manuel Silva, estas taxas de desperdício têm de «ser relativizadas», pois o estudo abrangeu pacientes de primeira prescrição do medicamento e excluiu os doentes crónicos. No entanto, o dirigente considera que estes dados «põem na ordem do dia a necessidade de redimensionamento das embalagens» do medicamento, nomeadamente da «uni-embalagem», por exemplo, a quantidade certa de comprimidos para o tratamento prescrito.