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“Não há médico, não há voto” no Soito

População da freguesia do Sabugal cumpriu ameaça e boicotou eleições por causa da falta de médico

“Médico de família sim, médico de vez em quando não. Não há médico, não há voto”, dizia um cartaz afixado na Escola Primária do Soito. Indignada com a falta de um médico de família em permanência desde Maio de 2004, a população da freguesia do Soito, concelho do Sabugal, cumpriu a ameaça e boicotou as eleições legislativas do último domingo. Os portões da escola, onde deveria ter decorrido a votação, foram mesmo fechados a cadeado durante a madrugada e assim nenhum dos 1.188 eleitores inscritos pôde exercer o seu direito de voto.

Para mostrar que estão unidos em torno do mesmo objectivo, foram muitos os populares que, entre as sete da manhã e as 19 horas do último domingo, se mantiveram em frente à escola, chegando a ser cerca de 200 pessoas na altura prevista para a abertura das urnas, adianta o presidente da Junta de Freguesia. João Calva frisa que «nada nos indica que vamos ter um médico por causa desta forma de luta, mas, pelo menos, mostramos o nosso descontentamento e estamos a lutar por uma causa justa porque todos temos direito à saúde», realça. O autarca da segunda maior freguesia do concelho do Sabugal considera que «se alguém anda a fazer política com o Soito não o devia fazer, porque a saúde não é o motivo ideal para fazer política». Também os populares mostraram a sua indignação no domingo. Carlos Tavares diz que é uma «vergonha» não haver médico há quase um ano, daí «o povo estar solidário, pois temos que atacar esta situação», sublinha. Também Manuel Ventura, outro habitante do Soito, contesta a falta de médico. «Vamos daqui para o Sabugal, de lá mandam-nos para cá outra vez ou então para a Guarda e por causa disto já morreu gente», garante, falando de alguns casos que acompanhou de perto.

Também a alternativa proposta pela Sub-Região de Saúde da Guarda, de que irá um médico do Centro de Saúde do Sabugal todos os dias ao Soito até ser colocado definitivamente um médico de família, «peca por ser tardia», garante João Calva. «O que nos vêm propor agora acaba por ser bom para a população, já que tudo o que vem é bom. Se o tivessem feito há dois ou três meses atrás, nunca se chegava a este ponto porque vinha aí um médico que só passava medicamentos e não dava consultas a ninguém», sublinha. Contudo, «não há nada escrito e a população já desconfia, pois está farta e indignada por ter sido enganada durante muito tempo», acrescenta. Caso o cenário permaneça tal como está, a população do Soito está a disposta a continuar a não votar, inclusive nas próximas autárquicas. «A população está unida, não tivemos qualquer motim e não houve ninguém que quisesse votar. E para as autárquicas também vai haver boicote caso não haja médico», avisa João Calva. Entretanto, em nota enviada à comunicação social na semana passada, Emília Pina, coordenadora da Sub-Região de Saúde da Guarda, explica que a extensão do Soito tem 1.405 inscritos «e não 3.000». Por outro lado, indica que desde 1 de Julho de 2004 que quatro médicos passaram a ir ao Soito «escalados três dias por semana» e que «não passaram só receitas, pois caso fosse verdade era impossível manter o mesmo movimento assistencial na extensão». A responsável reitera que está a decorrer um concurso público para o lugar, aguardando-se sua a conclusão.

Ricardo Cordeiro

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