A gestão da coisa pública passa quase sempre pela capacidade de gerir a relação entre os diferentes interesses, públicos e privados, pessoais e coletivos, em que o maior interesse da comunidade se deve sobrepor ao conjunto dos interesses individuais. Quando é assim, os governos atuam em prol de todos e o interesse comum é salvaguardado. Mais, os governos devem ter a capacidade de corrigir os seus próprios erros e, quando é preciso, voltar atrás nas suas decisões por forma a conseguir que o interesse público e o maior interesse do coletivo se sobreponham às vontades, escolhas ou opções do próprio poder político e do decisor público.
A construção do Centro de Exposições na Guarda foi finalmente decidida. Vai ser, como há muito se esperava, no Rio Diz, na antiga fábrica têxtil Tavares. E esta é uma decisão acertada da Câmara da Guarda.
As instalações fabris foram adquiridas em 2001 pela autarquia à família Tavares para, no contexto da intervenção Polis, fazer parte da zona de requalificação urbana então delineada. Previa-se que toda a encosta fosse transformada em zona de lazer e em equipamentos de interesse ambiental, e nas instalações fabris deveria nascer um museu da água. O contrato então elaborado previa o pagamento de cerca de dois milhões de euros, que a autarquia demorou uma dúzia de anos a pagar.
Quando Álvaro Amaro anunciou a construção de um multiusos todos olharam para aquela localização. A autarquia era proprietária do espaço e com esse equipamento requalificava-se finalmente a zona do Rio Diz. A gestão política posterior, já com Chaves Monteiro ao leme do município, foi errática e, entre arrufos e divergências, atrasou a possibilidade de acordo. O presidente da Câmara da Guarda chegou mesmo a indicar o Parque Urbano (Polis) para a construção do CET no lugar do atual “iglô”, o que motivou o maior desagrado da população. Na Assembleia Municipal deu-se voz ao protesto e a presidente (eleita pelo PSD) votou pela proposta do BE contra o partido porque foi eleita (uma excentricidade que permitiu várias leituras). Depois de Chaves Monteiro ter conseguido encontrar um investidor interessado em construir o CET, arrastavam-se os pés por causa da localização. Finalmente o acordo “tripartido” entre autarquia, Têxtil Tavares e Greenfield, com o fundo a comprar à Câmara da Guarda as velhas instalações fabris e à família Tavares os terrenos entre a fábrica e a estrada do Rio Diz. O desenho do negócio é muito interessante, com os depauperados cofres da autarquia a receberem dois milhões de euros e a cidade deverá ter dentro de dois anos um equipamento de interesse público, mesmo que de domínio privado. Uma excelente solução que permitirá, também, a requalificação daquela zona da cidade.
Ao mesmo tempo, vislumbra-se solução para outro dos pontos negros da cidade: o Hotel Turismo. Encerrado há quase 10 anos, o grupo concessionário, a MRG, assinou finalmente o contrato de Cessão de Posição Contratual para a requalificação do edifício e a reabertura do icónico hotel. Apesar de o novo concessionário, a Green Endogenous, não ter histórico nem currículo no setor, deseja-se que o contrato patrocinado pelo Turismo de Portugal e pela Câmara da Guarda permita a reabertura do Hotel Turismo em breve.
PS: Apresentamos as mais sentidas condolências à família de Joaquim Pina Moura pelo seu falecimento. O antigo ministro natural de Loriga foi colunista e colaborador do jornal O INTERIOR.