Contributo para a monografia do Rochoso – As alcunhas (Tomo I)

Escrito por Jornal O Interior

Este modesto aporte será publicado em dois tomos, para dar dignidade ao escrito.
Ninguém duvide que o Rochoso é uma terra peculiar. A começar pelo nome e pela morfologia do terreno, que faz jus à toponímia: rochedos e barrocos. E esperava-se que neste meio pedregoso não brotasse nada fértil; que a terra fosse estéril. Puro engano! Pelo contrário, é uma terra rica em património e em recursos humanos. Com primazia para o poder espiritual. Com grandes tradições nesta matéria de ordem divina, o clero dominou, com obra vasta e profícua. Daí o Rochoso haver sido considerado a Roma Portuguesa!
Já em sede de poder temporal, invoco apenas algumas figuras proeminentes, como o inefável, poético e visionário Dr. Alberto Dinis da Fonseca ou os ministros que povoaram (ou ao menos visitaram) estas terras abençoadas: um, nativo, o Dr. Gonçalves Proença, cujo busto foi atempadamente recolhido em tempos de revolução; outro, nosso contemporâneo ainda no ativo, embora da terra apenas por casamento, o Prof. Adalberto Campos Fernandes, cuja obra em matéria de saúde pública tem beneficiado não apenas os da terra, como todos os portugueses. E já não falo de ministros, presidentes de Câmara, vereadores e quejandos, que de tão abundantes não chegam a fazer história.
Porém, mais do que os vultos individuais, interessa salientar a massa encefálica que abunda entre lajedos – ao que parece beneficiando da água da Fonte Carvalha, com poderes extraordinários nas células cinzentas. Pois bem, o Rochoso, em estatística precisa, tem 57 almas formadas em ensino superior, de bacharéis a licenciados, de professores doutores a catedráticos, para uma população de aproximadamente 300 habitantes! É, portanto, uma terra de doutores, com uma capitação de 0,19 formados por habitante! Em cada 5,26 habitantes um é formado! São rácios claramente passíveis de Guiness (de recordes, não de cerveja preta) e aliás sem oposição mundial.
“Quod demonstratum est”: É uma terra extraordinária! Mas há outra matéria em que o Rochoso será pioneiro: na originalidade e quantidade de alcunhas! Não conheço a origem de grande parte delas. Mas de algumas sei histórias de que vos vou dar parte, com a devida vénia.
É fácil entender a origem de Pólvora Fina e de Raposo. O Rochoso esteve e está pejado de gente astuta e esperta, daí os nomes.
A esse propósito invoco o Zé da Máxima, filho da dita, e que na primeira pessoa contava a história verdadeira de quando trabalhava em França, jardineiro de uma casa rica, em que também trabalhava um segundo companheiro no jardim. Acontece que o patrão, tendo necessidade de despedir um dos dois, reuniu-os e disse-lhes:
– Ficará cá a trabalhar o que nesta Primavera tiver as flores mais bonitas!
O Zé da Máxima, na melhor tradição picaresca do Rochoso, quando nas flores do seu rival começaram a brotar os botões, cortou-os todos! E dizia o Zé da Máxima, com verdade:
– Nessa Primavera o outro nem uma flor teve no seu jardim!
Continuaremos este estudo singelo no II tomo, de alcance mais substancial do tema em apreço.

Jorge Grancho, antropólogo e historiador

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Jornal O Interior

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