P – O jornal académico que dirige, o pioneiro Urbi Et Orbi, vai comemorar este mês 20 anos. O que representa para si esta data?
R – É sobretudo um símbolo do enorme sucesso que o jornal teve. É uma representação da sua persistência e do facto de continuar a entusiasmar os nossos alunos ano após ano. Além disso afirma o seu significado enquanto grande laboratório para os nossos estudantes, que aqui deram os primeiros passos no mundo do jornalismo.
P – Quais foram os maiores desafios enfrentados ao longo deste percurso?
R- A sobrevivência. O facto de termos uma rotatividade de chefes de redação relativamente elevada também foi um desafio, sem dúvida. Inicialmente quem assumia esta função eram estagiários recém-licenciados que acabavam a sua formação e depois ficavam aqui um ano a fazer estágio como chefes de redação. Era difícil, pois todos os anos era necessário treinar um estudante novo, embora tentássemos sempre escolher aqueles que se mostravam mais talentosos e se destacavam. Hoje em dia já não funciona dessa forma. Apesar disso, o simples facto de lançar uma nova edição todas as semanas é um desafio e uma dificuldade.
P- Assim sendo, como avalia a importância atual do jornal para a comunidade académica?
R- Além de ser este laboratório pedagógico para os alunos – e eu acho que cumpre um papel muito importante nessa vertente –, também permite à Universidade da Beira Interior dar a conhecer as suas atividades a si própria. Permite aos alunos de Medicina saber o que estão a fazer os colegas da Faculdade de Artes e Letras, aos das engenharias saber o que fazem as pessoas das Ciências Sociais e Humanas… Além disso, também possibilita à comunidade fora da universidade saber o que se faz aqui dentro. Assim acaba por ser um espelho da UBI para si própria e da UBI para o mundo – que é isso que significa o nome Urbi Et Orbi.
P- Apesar de ser um jornal online – onde tradicionalmente não existe periodicidade, pois a atualização é constante – o Urbi mantém o formato de edição periódica semanal. Isso é algo que pretende manter?
R-Sim, porque aquilo que caracteriza um jornal é a periodicidade. Se não tem periodicidade deixa de ser um jornal, passa a ser um site de notícias. Não temos capacidade, nem meios para atualizar constantemente, nem acho que isso seja pertinente. Acho que isso descaracteriza aquilo que é um jornal. Um jornal é marcado precisamente pela rotina da sua edição. Não quer dizer que não se façam atualizações – e fazem-se no “feed” quando são necessárias –, mas deixar de ser um jornal para passar a ser um site como o NIT [New In Town] que traz notícias e as atualiza como bem entende, no meu ponto de vista não vai ser positivo e não gostaria de ver essa evolução. Não quer dizer que não venha a acontecer, pois eu não sou eterna, nem vou eternizar-me na direção do Urbi, mas, à partida, para mim não é uma boa opção. Como funciona O INTERIOR? Atualizam o site, mas têm a edição em papel pois se deixarem de ter isso e não tiverem mais uma periodicidade deixam de ser um jornal. Até acho que a atualização constante confunde o público…
P-Porque motivo?
R-Porque quando leio um jornal quero ler a edição diária, não quero passar o dia presa ao site a ver o que lá está de novo, nem quero estar a fazer “scraping” das notícias nas redes sociais. Quando leio, por exemplo, o “Expresso” quero saber que aquelas são as notícias que o “Expresso” entendeu que eram pertinentes. Então esta rotina de termos números para mim é importante e vai manter-se. É o facto de termos números que me permite dizer que esta é a edição 1.046 do Urbi. Já viu a enormidade que isto é? É mais do que dizer que tem 20 anos!
P-Assim sendo, nesta fase o que mudaria no jornal, se é que mudaria alguma coisa?
R-O site apresenta algum cansaço, pois os meios tecnológicos vão evoluindo e começa a notar-se que não é um site que foi feito ontem. Por essa razão, na edição de aniversário estamos a preparar um refrescamento do site e uma alteração – bastante radical aliás – da sua imagem gráfica e do seu modo de funcionamento. Será lançado no encontro de ciberjornalismo académico [agendado para 19 de fevereiro, na UBI]. Acho que será uma grande melhoria relativamente ao que temos hoje, que é um site que já tem uns anos.
Sofia Craveiro
Perfil de Anabela Gradim:
Diretora do jornal online académico Urbi Et Orbi
Idade: 49 anos
Naturalidade: Lisboa
Currículo: Licenciada em Filosofia pela Universidade do Porto e doutorada em Ciências da Comunicação na Universidade da Beira Interior com uma tese na área da semiótica. Foi jornalista do “Comércio do Porto” e do “Público”. Trabalha há mais de 20 anos na área do ensino do jornalismo e comunicação. É docente na Faculdade de Artes e Letras da Universidade da Beira Interior, coordenadora da Unidade de Investigação Labcom, e diretora do jornal académico Urbi Et Orbi
Livro Favorito: “A Fada Oriana”, de Sophia de Mello Breyner
Filme Favorito: “Coração Selvagem”, de David Lynch
Hobbies: Não tem