«Perceber que há 17 municípios dispostos a embarcar neste projeto da candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura foi para mim super-aliciante porque representa o ultrapassar daquelas típicas discordâncias e desencontros que sempre marcaram esta região», garante Pedro Gadanho.
O diretor executivo do projeto diz-se «entusiasmado» com o desafio e «otimista» quanto ao futuro. «A candidatura é uma situação muito empolgante, porque vai fazer-nos pensar como é que a cultura no quotidiano ajuda à transformação de uma região que foi objeto de um investimento assimétrico dentro do desenvolvimento económico e cultural do país e que agora tem a oportunidade de repensar o seu futuro», afirma o arquiteto e designer natural da Covilhã, mas «batizado na Guarda».
Com uma vasta experiência de curadoria e direção em diversos museus, entre os quais o MoMA (Museum of Modern Art), de Nova Iorque, e o MAAT (Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia), de Lisboa, Pedro Gadanho é atualmente investigador na Universidade de Harvard (Estados Unidos) e sentiu que chegou o momento de prestar o chamado «tributo do nascimento». Contudo, este regresso à região onde nasceu tem outro significado, o de voltar ao contexto de cidade e de «pensar curadoria de uma forma mais abrangente e mais transversal», tal como no início do seu trabalho com a fundação do CUC – Centro Cultura Urbana Contemporânea no âmbito da Capital Europeia da Cultura Porto 2001.
«Depois de alguns anos a trabalhar no contexto de museus, tinha chegado a uma espécie de impasse em que achava que o espaço do museu não era suficiente, principalmente para utilizar a cultura e lançar debates mais próximos à realidade dos cidadãos, do seu quotidiano», justifica o diretor executivo, que com esta candidatura quer contribuir para «refletir e contrariar o facto de tanta gente ter saído desta região e perdido as suas raízes». A alavanca será a cultura porque «uma das funções da Capital Europeia será criar capacidade de atração de novo em cidades que continuam a perder população, o que pode passar por economia, empresas tecnológicas, património e também por uma oferta cultural mais rica. Parece-me quase impossível criar atratividade para uma região sem reforçar a oferta e a dinâmica cultural», sustenta Pedro Gadanho.
De resto, o responsável acredita que a ruralidade deste território não é «uma carga negativa», antes uma mais-valia do projeto “Guarda 2027”, lembrando que, «fruto das alterações climáticas, está a haver uma redescoberta do interior na Europa e acho que essa ruralidade vai-se tornar um centro importante e é importante que isso intercete a ideia de cultura». O diretor executivo também quer reforçar a ligação à Universidade de Salamanca e apostar na dimensão transfronteiriça da candidatura. «Uma cidade Capital Europeia da Cultura tem uma dimensão internacional, movimenta dezenas senão centenas de milhares de turistas para sítios que dois a três anos antes eram desconhecidos. O caso de Matera, em Itália, é disso exemplo», aponta Pedro Gadanho, cuja ligação a Harvard termina em maio. «A partir de junho estou aqui de forma muito regular», promete.
Entretanto, esta semana o responsável teve um primeiro contacto com o executivo municipal, associações e agentes culturais da cidade. Posteriormente pretende conhecer os atores e autarcas das restantes 17 cidades envolvidas na candidatura. Esta quinta-feira Pedro Gadanho esteve também numa sessão no TMG, onde foi apresentada a equipa de projeto da candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura em 2027.