P – A Adega do Fundão completou 70 anos em dezembro. Qual é o balanço do presidente da cooperativa? Quais os maiores desafios enfrentados?
R – O balanço é positivo, já que a cooperativa mantém-se viva e com força para resistir por mais 70 anos. A Adega do Fundão é um pilar importante para o sector vinícola da Cova da Beira, pois, com sua existência, esta cultura ainda é uma realidade na região. Um dos maiores desafios enfrentados neste período foi, principalmente, conseguir cativar associados para constituir uma lista para os órgãos sociais. Estes funcionam como um “colégio de associados”, em que as decisões tomadas representam a posição desse grupo de pessoas e isso é importante. Outro desafio foi conseguir pagar na totalidade aos associados as uvas da campanha de 2019 em novembro desse ano. Tudo isto foi feito com grande esforço. De um modo geral, a reestruturação da Cooperativa do Fundão, em termos de recursos humanos e comerciais, e a adaptação à realidade atual foi algo que envolveu muito trabalho e dedicação.
P – Quanto ao futuro, quais são os maiores obstáculos que se colocam no horizonte da cooperativa? Há novos projectos planeados para este novo ano?
R – Em relação aos obstáculos penso que o de maior relevância é a penetração nos mercados de maior valor para os vinhos que produzimos. É um fator muito importante, difícil de alcançar, mas que teria grande impacto para a Adega do Fundão. Relativamente aos projetos para o novo ano que agora começa, o principal objetivo é melhorar o valor a pagar por cada quilo de uvas de qualidade que entre na Adega na campanha de 2020. A qualidade deve ser recompensada.
P – A situação económica da Adega estava um pouco frágil quando assumiu a presidência. Qual é o panorama atual? Houve alguma mudança deste então?
R – Sim, de facto houve mudanças. Hoje, o panorama é bem diferente, pois temos capacidade para pagar as uvas na totalidade um mês após a sua entrada na Adega. Este facto é muito importante para a continuidade do ciclo de produção. Além disso, hoje pagamos pelos associados o seguro de colheitas – sem custos diretos para os mesmos –, dando mais segurança a quem trabalha connosco.
P – Qual a dimensão do mercado da Adega? Como está de exportações?
R – Temos maior presença no mercado nacional, como é natural, mas estamos presentes em vários pontos do mundo. Exportamos para países europeus, norte-americanos, sul-americanos e para países dos continentes africano e asiático, também.
P – O que falta para afirmar esta região vitivinícola no mercado? Pode o Fundão (e a Beira Interior) afirmar-se como uma referência no sector?
R – Não penso que falte alguma coisa em concreto, mas é preciso continuar a potenciar a marca Beira Interior e fazer dela uma referência associada àquilo que é a imagem do país. Isto deve ser feito dentro e fora de Portugal. Para o Fundão e a região se afirmarem como uma referência neste setor a tarefa – ainda que seja possível – não é fácil. A Beira Interior é enorme e muito fragmentada, havendo muitas forças que não convergem sempre para o mesmo objectivo. A região está a traçar o mesmo caminho que é enfrentado pelos vinhos de Portugal no mundo. Lentamente, o mercado começa a reconhecer a qualidade dos nossos vinhos, vendo neles um produto com valor, mas, apesar disso, muito ainda tem de ser feito.
Perfil de António Madalena:
Presidente da Adega Cooperativa do Fundão
Naturalidade: Guarda
Idade: 53 anos
Profissão: Enólogo
Currículo: Lecionou disciplinas de Ciências e Matemática no Fundão, Belmonte e Penamacor; Integra o quadro da Adega Cooperativa do Fundão, no Departamento de Enologia e Produção, há mais de 25 anos; Integrou um projecto no Douro Superior de instalação de vinhas; Provador da Câmara de Provadores da Beira Interior; Membro da mesa administrativa da Santa Casa da Misericórdia do Fundão e Presidente desde 2017 da direção da Adega Cooperativa Fundão.
Filme preferido: Não consegue eleger apenas um
Livro preferido: Não consegue eleger apenas um
Hobbies: Vinhos e enologia