Sociedade

A revista do ano 2019

Escrito por Jornal O Interior

Com o fim do ano a aproximar-se é tempo de retrospetivas. 2019 foi um ano de diversos encerramentos de indústrias na região, bem como de várias polémicas políticas na Guarda. Foi um ano com dois atos eleitorais, com todas as consequências boas e más que isso possa ter para a região. Foi também o ano em que Álvaro Amaro renunciou ao mandato na Câmara da Guarda para ser eurodeputado em Bruxelas. A luta pelo clima fez os jovens sair à rua, a greve dos combustíveis pôs o país em sobressalto e o lítio colocou a região em alerta. O ano termina, mas muito ainda fica por resolver.

Janeiro
No mês de janeiro o IPG foi notícia por “ganhar” novos diretores para as quatro escolas superiores, sem que nenhum dos responsáveis cessantes tenha sido reconduzido nas suas funções. O Politécnico esteve também no centro de uma discussão que se arrastou por largos meses: Joaquim Brigas, presidente do Instituto Politécnico da Guarda, afirmava que a Pousada da Juventude devia ser transformada em residência de estudantes, uma opinião contestada de forma unânime pela autarquia guardense, então liderada por Álvaro Amaro. O executivo em funções na Guarda foi o mesmo que então assumia competências do Estado, nomeadamente nos domínios do património do Estado, habitação e lojas, espaços do cidadão e gabinetes de apoio a emigrantes. No primeiro mês do ano anunciava-se também que mais estações de correios iriam ser fechadas na região e no país, e que a fábrica de cobertores Serralã, nos Trinta (Guarda), iria encerrar «temporariamente» devido a dívidas. Enquanto isso António Costa visitava Vila Nova de Foz Côa para inaugurar um novo Centro de Saúde.

Fevereiro
Fevereiro começava com a notícia de que a CIM-BSE iria receber 496 mil euros para reduzir o custo dos passes sociais e assim integrar a nova medida do governo de apoio ao uso de transportes públicos. E Américo Rodrigues era nomeado diretor-geral das Artes, após ser dispensado da coordenação da Biblioteca Eduardo Lourenço no ano anterior pela autarquia guardense. A taberna Benfica do “senhor Toneca” fechava portas definitivamente, mas a notícia que uma nova fábrica de calçado iria criar 30 postos de trabalho dava novo fôlego à cidade. O fim das portagens na A25 e A23 foi novamente discutido na Assembleia da República e a proposta chumbada uma vez mais. No desporto, o inconformado Manteigas pedia a demissão dos órgãos da AF Guarda, após o Conselho de Justiça revogar a retirada de dois pontos ao clube serrano. A autarquia de Álvaro Amaro anunciava que o Pavilhão Multiusos iria ser construído nos terrenos da antiga Fábrica Tavares, após dez meses de ponderação. O assunto da Pousada da Juventude era dado como «encerrado» com o edifício – fechado há vários anos – a ser incluído no Plano Nacional de Alojamento para o Ensino Superior, cujo decreto-lei foi publicado em “Diário da República”.

Março
Era mais uma notícia desoladora. Na mesma semana em que O INTERIOR assinalava a sua milésima edição, fazia manchete o fecho de mais uma fábrica, desta vez em Famalicão da Serra. A empresa de confeções Confama não conseguiu fazer face às despesas e deixou 70 pessoas no desemprego. As más notícias para a região continuavam a surgir com a confirmação de que o distrito da Guarda ia perder um deputado na Assembleia da República, passando a eleger apenas três representantes no Parlamento. Março foi também o mês em que surgiu a certeza de que Álvaro Amaro ia ser candidato ao Parlamento Europeu em quinto lugar. O autarca guardense concorria a Bruxelas num lugar elegível, mas permanecia na presidência da Câmara da Guarda, tendo apenas suspendido o mandato em abril. Centenas de estudantes saíram à rua em defesa do meio ambiente e para exigir mais ação governativa, num protesto que marcou a atualidade a nível global durante todo o ano. Neste mês o antigo presidente da Câmara do Fundão, Manuel Frexes, foi constituído arguido por suspeitas de crimes de prevaricação e corrupção alegadamente praticados quando era autarca. No desporto o Figueirense sagrava-se campeão distrital da AF Guarda a quatro jornadas do fim.

Abril
A Câmara da Guarda e as restantes autarquias que integram o sistema multimunicipal de água e saneamento das Águas do Vale do Tejo aderiram, por fim, ao acordo de pagamento de dívidas proposto pelo Ministério do Ambiente, estabelecendo um prazo de 25 anos para liquidar o valor total devido. Foi nesta altura que começou a borbulhar a polémica em torno da exploração de lítio, com a publicação em “Diário da República” de dois avisos a dar conta de que uma multinacional australiana requereu a atribuição de direitos de prospeção em vários concelhos do distrito da Guarda. Álvaro Amaro abandonou a Câmara para ser eurodeputado, deixando a presidência disponível para Carlos Chaves Monteiro, o novo edil da Guarda, que escolheu o vereador Sérgio Costa para vice-presidente.
Abril trouxe cravos e mais uma má notícia: a Dura Automotive ia perder o seu maior cliente, o que iria deixar a fábrica de componentes automóveis de Vila Cortês do Mondego numa situação periclitante, sucedendo-se as notícias de que os dias de laboração estariam «contados». A greve dos motoristas de matérias perigosas colocou o país em alvoroço e gerou filas intermináveis nos postos de abastecimento por todo o país. A direção da Associação Comercial da Guarda demitiu-se, antecedendo um pedido de insolvência que viria a surgir em maio. Neste mês soube-se que o festival de música Mêda+ não voltaria a ser organizado devido a dificuldades financeiras.

Maio
Maio foi um mês de alguma esperança. O INTERIOR noticiava que a Guarda continuava a ser o município mais exportador da região e que um novo empresário poderia reabrir a Confama. Foi o período marcado pelas eleições europeias, que mostraram a preferência socialista que dominou a região, e a mesma altura em que se anunciava que a A25 estaria concluída em agosto do próximo ano. No desporto o Vila Cortês venceu a Taça de Honra da AF Guarda, mas o histórico Sp. Sabugal foi despromovido à IIª divisão, enquanto o Sp. Covilhã derrotava a Académica em Coimbra e terminava o campeonato da IIª Liga no sexto lugar. A rotunda da Guarda-Gare ficou pronta, mas a locomotiva tardou em chegar – e continua sem lá estar. O pedido de exploração de lítio na Serra da Argemela foi chumbado pelo Governo, para satisfação dos locais, e na Covilhã anunciava-se que uma empresa pretendia transformar uma antiga fábrica em residência universitária.

Junho
O SIAC reabriu o Cine-Teatro e fez da Guarda a capital da arte contemporânea. As aeronaves de combate a incêndios de Seia foram reposicionadas para Castelo Branco por decisão da Proteção Civil, o que não agradou aos senenses. Nesta altura foi inaugurada a nova ETAR do Torrão, uma obra que auxilia na despoluição do Noéme, mesmo a tempo da conclusão dos trilhos entre Vale de Estrela e o Rochoso, no concelho da Guarda. Em junho rebentou o escândalo da operação “Rota Final”, que levou a Polícia Judiciária a fazer buscas em várias câmaras, algumas das quais na região, por suspeitas de corrupção. Álvaro Amaro, então a caminho de Bruxelas, foi constituído arguido nesta investigação a um alegado esquema de viciação de procedimentos de contratação pública que envolveu a transportadora Transdev. O antigo autarca da Guarda foi ainda acusado, junto com o seu sucessor Carlos Chaves Monteiro e o vereador Victor Amaral, além de duas técnicas superiores, de fraude na obtenção de subsídio e prevaricação, relacionados com o financiamento do evento “Guarda Folia”. Em junho surgiu a notícia de que uma empresa de pellets iria investir 15 milhões de euros numa fábrica da PLIE e foi ainda anunciado o aumento do número de vagas nas instituições de ensino superior da região, uma medida do Governo para favorecer o Interior.

Julho
A operação “Rota final” ainda fazia manchete nos jornais e O INTERIOR revelava que o agora eurodeputado Álvaro Amaro pagou uma caução de 40 mil euros para aguardar julgamento em liberdade. Semanas mais tarde é noticiado a nível nacional que a mãe de uma antiga secretária do ex-presidente da autarquia, Catarina Paixão, tinha sido apanhada a destruir documentos da Câmara nas instalações da ULS da Guarda (onde trabalha). A PJ investigou e admitiu poder tratar-se de contratos e correspondência do município. Em julho foi inaugurado o “Edifício Polifónico do TMG” e a Guarda é apontada como o local onde terá sede o novo comando da Unidade de Emergência, Proteção e Socorro da GNR. A cidade mais alta ganhou ainda a nova Delegação Regional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e o Centro de Nacional de Educação Rodoviária, este último através de um protocolo assinado no IPG. Pinhel foi escolhida para Cidade do Vinho 2020 e no desporto o Sp. Covilhã regressava ao trabalho com cinco novos reforços e um novo treinador, Ricardo Soares. Na política, a autarquia da Guarda perdeu um vereador socialista, quando Pedro Fonseca anunciou a sua demissão da Federação distrital do PS na Guarda e a renúncia ao mandato no executivo. A notícia surgiu após a lista proposta de candidatos às legislativas de outubro ter sido chumbada pela distrital. A cabeça de lista era Ana Mendes Godinho. No PSD o líder da distrital Carlos Peixoto foi quem encabeçou a lista.
Na Guarda a concessão do Hotel Turismo foi transferida para um grupo empresarial do Porto após impasse na requalificação e problemas financeiros do grupo MRG. Na Covilhã foi inaugurado o NEST – Centro de Inovação de Turismo.

Agosto
Em mês de verão foram adjudicados os trabalhos do primeiro troço de modernização da linha da Beira Alta e a discussão da regionalização regressou em força com a proposta submetida pela Comissão Independente para a Descentralização, liderada por João Cravinho. Ainda na política, a independente Ana Cristina Marques surgiu como a nova vereadora do PS na autarquia guardense. Inesperadamente a transportadora Viúva Monteiro suspendeu as carreiras entre a Guarda e o Sabugal e reclamava o pagamento de uma dívida de 178 mil euros, mas Câmara da Guarda afirmou não ter contrato com a empresa que incida sobre serviços de transportes urbanos ou interurbanos. A autarquia acabou por pagar cerca de 20 mil euros relativos a passes sociais, mas delegou a responsabilidade na CIMBSE. A empresa repôs as ligações então suspensas, mesmo a tempo do início das aulas.

Setembro
A Serra da Estrela tornou-se Geopark UNESCO, um anúncio há muito esperado pelos habitantes e responsáveis da região. Em tempo de regresso às aulas o número de camas para estudantes continua a ser insuficiente na Covilhã e Guarda. Em Pinhel foi inaugurado o novo Parque Urbano. Em julgamento Marco Baptista, suspeito de desviar mais de 110 mil euros da Rede de Judiarias, confessou todos os crimes de que é acusado e António Costa, em campanha para as legislativas, veio à Guarda prometer descongelar a segunda fase das obras do Hospital da Guarda. Setembro fica marcado pela tragédia, quando uma criança de dois anos é colhida acidentalmente por um comboio na Guarda-Gare.

Outubro
As eleições legislativas e o PS vencedor dominam a agenda mediática. Tal como a maior parte do país, Castelo e Branco e Guarda ficam “pintados de rosa”. Os albicastrenses elegeram três deputados socialistas e apenas um social-democrata. Na Guarda, o PS ganhou dois representantes no Parlamento e o PSD apenas um. Com a formação do novo Governo, Ana Mendes Godinho e Ana Abrunhosa, com raízes familiares no distrito da Guarda, tornam-se ministras do Trabalho e da Coesão Territorial, respetivamente. A Guarda ganha ainda a Secretaria de Estado da Ação Social, que passa a funcionar de forma descentralizada, sob o comando de Rita Cunha Mendes, natural de Aguiar da Beira.
A mobilidade está em destaque com a apresentação do novo plano municipal de transportes na Covilhã. Este município anuncia ainda, em parceria com o Fundão, a criação de ciclovias a ligar as duas cidades. Enquanto isso a candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura perde o seu principal trunfo com a demissão de José Amaral Lopes. Teresa Patrício Gouveia passa a presidir à Comissão de Honra deste candidatura, antes ainda de existir um sucessor para a sua coordenação.
A empresa Dura Automotive vive dias negros com o despedimento de 66 pessoas e o anúncio de apenas mais dois anos de laboração. O INTERIOR noticia ainda que o “retail park” da Guarda é vendido por 89 milhões de euros e a requalificação do Parque TIR de Vilar Formoso vai finalmente avançar. Na saúde é anunciado o reforço de médicos no hospital e centro de saúde de Seia.

Novembro
A candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura ganha novo fôlego com o anúncio de que Pedro Gadanho será o novo coordenador. A Câmara do Fundão lança um concurso para construção da unidade de Medicina Nuclear, enquanto a maternidade de Castelo Branco gera preocupação por poder fechar por falta de médicos. Os Passadiços do Mondego arrancam durante as comemorações do Dia da Cidade na Guarda e tem início a construção do Foz Côa Story House, em Vila Nova de Foz Côa. Na política Eduardo Brito anuncia que vai renunciar ao mandato de vereador na Câmara da Guarda.

Dezembro
No último mês do ano surge a acusação do Ministério Público a Júlio Sarmento, ex-autarca de Trancoso, por prevaricação e participação económica em negócio. Deflagra um incêndio no Mercado Municipal da Guarda que obriga ao fecho do espaço durante quinze dias e leva os comerciantes a vender na rua até a requalificação estar concluída pela autarquia. A Câmara da Guarda revela que vai reabilitar casas no centro histórico da cidade para estudantes do IPG. E a cidade mais alta vê abrir o primeiro Cash & Carry grossista do distrito com a chegada do Quiel, junto à VICEG. É anunciado o avanço do novo quartel da GNR da Guarda em 2020 e é inaugurada a loja da Rota Dos Vinhos da Beira Interior na Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior. As demissões no seio da concelhia socialista do PS na Guarda continuam, com Agostinho Gonçalves, líder da secção local, a bater a porta por considerar não existir diálogo com a estrutura nacional do partido. Mais cinco membros da concelhia iriam apresentar demissão. Em dezembro instala-se a polémica na Guarda com a possibilidade do futuro Pavilhão Multiusos já não ser construído nos terrenos da antiga fábrica Tavares, surgindo a hipótese de se erguer no Parque Urbano do Rio Diz. Esta possibilidade gerou muita contestação, não só por parte da empresa têxtil, como da população em geral, que na maioria se opõe a esta opção. A polémica foi de tal ordem que Cidália Valbom, presidente da Assembleia Municipal, votou contra o seu partido na última sessão do ano e contestou a construção do CET no Polis, numa crítica clara ao presidente da autarquia, Carlos Chaves Monteiro. As depressões Elsa e Fabien chegam a Portugal e deixam o país num caos de ocorrências devido ao mau tempo. Inundações, desabamentos, quedas de árvores e até o descarrilamento de um comboio foram algumas das consequências das chuvas e vento fortes que se fizeram sentir por toda a região.

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