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«Somos pessoas normais»

Cara a Cara – Entrevista

P-Quais os objectivos da direcção da delegação de Castelo Branco da Associação Portuguesa de Deficientes (APD) para os próximos três anos?

R- Iremos desenvolver todos os eventos que já existiam e realizar novos projectos. O nosso trabalho assenta essencialmente na sensibilização e na luta por melhores acessibilidades para os deficientes. Vamos tentar que as Câmaras colaborem connosco, realizar exposições de sensibilização nos átrios das grandes superfícies e promover campanhas junto das escolas, sendo que a primeira está marcada para 7 de Março. Vamos ainda tentar fazer grandes convívios de deficientes, principalmente em Castelo Branco, para os aproximar ainda mais da delegação. A par disso, é importante que possamos fortalecer a sede e o atendimento às pessoas. Também gostaríamos de apostar no desporto e noutras actividades, mas primeiro está a sobrevivência da associação para dar voz aos deficientes.

P-Que motivos o levaram a demitir-se da presidência da direcção em 2003?

R- Por razões de saúde, mas a minha equipa, que era bastante coesa, não quis continuar sem mim. Voltei a candidatar-me para salvar a situação em que a delegação está, depois de ter passado por uma comissão executiva desde o último Verão com a demissão da anterior direcção. Apesar da minha equipa se ter demitido em 2003, estivemos sempre agarrados à causa e às pessoas, que são muitas. A vice-presidente é o melhor exemplo disso, pois manteve a sede em funcionamento durante este período.

P-Pondera algum tipo de colaboração com a outra lista que concorreu à direcção, liderada por Raul Pereira?

R-O acto eleitoral correu bem e penso que poderá haver alguma colaboração.

P-Um dos pontos essenciais do programa é pressionar a Segurança Social para assinar um acordo atípico com esta delegação. Em que consiste este acordo?

R-Irá permitir manter a sede, dar apoio psicológico e jurídico às pessoas com deficiência. Já existe apoio jurídico na Câmara da Covilhã, mas só alguns é que têm acesso. Vamos esperar para que o acordo seja assinado, pois só assim se garantiria a sobrevivência da associação. Caso contrário, teremos que fazer uma grande ginástica financeira e sempre com medo de não termos dinheiro no fim do mês para as despesas. A associação sobrevive apenas com o apoio dos sócios e com os subsídios das autarquias quando há eventos.

P-Uma das grandes dificuldades dos deficientes na Covilhã são as barreiras arquitectónicas em edifícios públicos. O que tem feito a associação para mudar estas situações?

R-A Covilhã é uma cidade de montanha, pelo que não é o melhor local para a maior parte dos deficientes motores. Ainda existem muitos postos de saúde em que os médicos têm que descer ao rés-do-chão para atender os deficientes e alguns dos doentes ainda têm que se “arrastar” pelas escadas para serem atendidos. Creio que ainda vai levar uns anos para esta situação mudar. Mas a Covilhã não é caso único e, da nossa parte, vamos alertando as entidades para essas situações.

P-E quanto ao emprego de pessoas com deficiência?

R-Portugal está na linha da frente quanto a leis de apoio a deficientes. O problema é que não são cumpridas. O Estado decreta, mas não faz cumprir. Daí que não tenha grande esperança de mudanças em termos de emprego. Se o Estado não cumpre, como é que vamos obrigar os privados a cumprir? Somos pessoas normais. Não somos diferentes dos outros. Acho que todos nós somos deficientes, pois todos temos limitações, logo deficiências.

P-Acha que as pessoas estão pouco sensibilizadas para os problemas dos deficientes?

R-Acho que sim. Ainda há pouco tempo, um deficiente foi maltratado porque queria apenas estacionar no seu lugar. Há excepções, mas a maior parte não tem sensibilidade. Mas penso que se os órgãos de comunicação continuarem a dar-nos voz, as coisas podem mudar lentamente.

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