«Conhecimento, motivação e psicologia comportamental». São estes os “segredos” para emagrecer que o médico Themudo Barata, do Centro Hospitalar da Cova da Beira (CHCB), tem implementado no programa “Peso Saudável”, o primeiro programa integrado de emagrecimento do país. O projecto de características inéditas, pois baseia-se essencialmente na chamada “medicina do estilo de vida”, já está a ser executado pelo Serviço de Nutrição e Actividade Física (SNAF) desde Março de 2004 e tem sido um verdadeiro êxito, a julgar pela forte adesão das pessoas. O programa tem já uma segunda edição em curso desde Outubro e ainda deverão abrir novos programas semelhantes ao longo de 2005.
O “Peso Saudável” baseia-se no Programa “PESO”, da Faculdade de Motricidade Humana (FMH) de Lisboa, cujo responsável médico é Themudo Barata. «Mas enquanto na FMH se trata de um projecto com fins de investigação científica, no CHCB é assumida uma vertente assistencial de aplicação prática aos utentes. É uma iniciativa inédita no meio hospitalar, sendo o CHCB pioneiro neste tipo de projecto», revela a nutricionista Ana Monteiro, que, juntamente com Themudo Barata, a dietista Margarida Proença, o psicólogo Jorge Marques e a administrativa Mara Garcia, integram a equipa do SNAF. Com uma duração de 18 meses (sessões semanais, passando posteriormente para quinzenais, mensais e bimensais), o programa é composto por consultas individuais de medicina, nutrição e psicologia necessárias ao acompanhamento individual e personalizado de cada utente, mas a base do sucesso reside nas sessões de grupo, uma actividade em que os utentes recebem formação «ao nível dos vários temas referentes ao processo de emagrecimento, havendo ainda espaço para colocação de dúvidas, troca de ideias e partilha de experiências pessoais», salienta Ana Monteiro. «Em primeiro lugar é importante saber passar a mensagem, que não pode ser passada apenas de uma forma científica, mas também recorrendo a técnicas de psicologia comportamental», aponta por sua vez o médico responsável pelo SNAF, para quem as sessões de grupo são essenciais para o sucesso do programa.
«Eu sou apenas o médico, uma pessoa magrinha que lhes diz o que devem fazer. O segredo para emagrecer reside nas pessoas do grupo e através do conhecimento das experiências de que enfrenta os mesmos problemas», salienta Themudo Barata. O objectivo é que ao fim dos 18 meses, os doentes não estejam dependentes do programa e que consigam adquirir «as ferramentas necessárias para lidar com a sua doença». Caso não resulte, há que questionar se o programa está a ser cumprido na totalidade pelo utente ou se existem outros factores que não os chamados “factores ambientais” na origem da patologia. Para além de incutir novos hábitos de alimentação e de actividade física, o programa pode também ter como terapia coadjuvante a medicação e inclusive recorrer à cirurgia da obesidade (banda gástrica), para a qual existe um protocolo com o Hospital Sousa Martins.
Doente conseguiu emagrecer 42 quilos em 8 meses
O sucesso do programa é quase indiscutível. Das nove pessoas da primeira edição do “Peso Saudável” presentes na sala, apenas duas confessam «não ter atingido os resultados esperados», mas por não terem cumprido o programa alimentar e não executarem exercício físico. Os restantes dizem estar satisfeitos, sendo que o exemplo mais flagrante é o de um doente com 45 anos que conseguiu perder 42 quilos em apenas oito meses «sem recorrer a qualquer tipo de medicação, nem a operações de banda gástrica», adianta Themudo Barata. «O doente em causa apresentava uma obesidade acima dos 160 quilos e quando o vi disse que não iria conseguir emagrecer sem recorrer a medicação. O doente pediu-me para lhe dar o benefício da dúvida e mês após mês foi emagrecendo apenas com alimentação mais cuidada e andar a pé», explica o médico perante os utentes do “Peso Saudável II”. Outro exemplo é o da enfermeira Eugénia que conseguiu perder 17 quilos apenas com a «disciplina» de uma alimentação regular e saudável e através do exercício da marcha.
O essencial é que o doente saiba gerir a sua própria doença através dos conselhos práticos que vai aprendendo no curso, tais como a diferenciação dos vários nutrientes e o significado calórico de cada um através da leitura do rótulo das embalagens – que aprenderam a ler nas primeiras semanas de formação – para optarem pela «opção mais saudável». E para isso também é necessária uma mudança do estilo de vida. «Os doentes passam a ter uma nova atitude de alimentação, perante a actividade física e perante si próprios. Muitas vezes, também passa por uma transformação psicológica que se pode reflectir com a alteração do comportamento alimentar», completa a nutricionista. «Se alguns paraplégicos conseguem andar, por que é que estas pessoas não podem conseguir perder peso?», questiona, por sua vez, Themudo Barata, para quem é tudo uma «questão de motivação». O médico confessa estar muito contente com os resultados obtidos, mas diz que os mais eficazes apenas serão conhecidos daqui a cinco anos. «Os primeiros dois anos são fundamentais para a mudança dos velhos hábitos, mas só daqui a cinco é que saberemos se as pessoas conseguem efectivamente manter o peso», refere.
Novos programas de “Peso Saudável” em 2005
Devido ao sucesso que o “Peso Saudável” I e II está a alcançar em toda a região – uma vez que o programa trata doentes dos distritos da Guarda e Castelo Branco – a equipa do SNAF está prestes a colocar em “marcha” novos programas de “Peso Saudável”. Assim, durante este ano, Themudo Barata irá dar seguimento ao “Peso Saudável III”, vocacionado para a população em geral e para doentes com problemas ortopédicos, e um outro “Peso Saudável” destinado à obesidade infantil, adianta a “O Interior”. Enquanto isso, está também a ser desenvolvido desde Outubro passado um programa específico para diabéticos com a mesma filosofia do “Peso Saudável”. A diferença é que se trata de um programa, também com 18 meses, um pouco «mais avançado», uma vez que há uma abordagem específica ao tratamento das diabetes de forma terapêutica, farmacológica, alimentar, actividade física e técnicas de auto-controle, explica Ana Monteiro. Ao longo deste ano, a equipa do SNAF pretende abrir ainda o “Clube dos Coronários” para doentes coronários, que, após alta de internamento, necessitam de supervisionamento e apoio na realização de exercício físico em ambiente intra e extra-hospitalar. Mas para que este programa entre em funcionamento é necessário equipar a sala de exercícios com estruturas adequadas para acompanhar os doentes.
Liliana Correia