Num hotel com um pequeno-almoço soberbo, um hino ao exagero e ao desperdício, uma afronta à fome do mundo, com cinco ilhas de diferentes escolhas e múltiplas alternativas: vegetariano, não lácteo, com café de vários tipos, frutas tropicais e portuguesas, farinhas exóticas, o tudo hiperbólico está uma mulher que protesta:
– Quero uma omeleta de ovos de codorniz com salsa e tomate!
Mesmo na opulência da gula alguém quer mais e quer mais específico. O hotel proporciona um cozinheiro que sacia mais um sofisticado gosto, que depois é só parcialmente comido.
Na saúde, o supermercado está montado. Querem especificidades absolutas, até certificações e credenciações, só que o saber e a intuição não estão em papéis. Médicos brilhantes não são certificados de coisa alguma e o inverso também existe. O que tenho a certeza é que médicos sem queixas não trabalham. Médicos sem complicações ou erros é porque não trabalham nada.
No universo da exigência exótica, da especificidade máxima do eu, a medicina clássica está a perder terreno. A norma é o inverso da especificidade. Como os hotéis, carecemos de reinventar a oferta tendo em conta a expectativa e a ansiedade do cliente.