Na passada segunda-feira, às 14H57, quando o jornal “Público”, na sua versão online, informava que Rita da Cunha Mendes seria a «secretária de Estado da Inclusão Social e Ação Social (com sede na Guarda)» fez-se história: pela primeira vez, a confirmar-se, a Guarda será sede de uma secretaria de Estado (da Ação Social, pois a notícia seria retificada excluindo a Inclusão Social).
Contrariando o nefasto percurso da história em que, desde o séc. XV, o “caminho” do centralismo lisboeta foi sempre em crescendo e em que nos últimos anos se esvaziou o país de competências e serviços, o Governo deu um sinal de querer corrigir assimetrias. A Guarda ter um serviço descentrado, de grande relevância, que fará a ponte entre as dificuldades do interior e o poder central e que terá a competência numa área tão sensível como a Ação Social é de enorme relevo. E é o cumprimento da promessa de descentralização tantas vezes adiada. A Guarda terá a recuperação de uma capitalidade que desde o tempo em que era sede da Diocese egitaniense tinha perdido (quando a Diocese se estendia até Abrantes, entre o Douro e o Tejo). Pode parecer estranho, mas enquanto em Lisboa se comenta, com razão, que este Governo terá 19 ministros e 51 secretários de Estado, com um custo de cerca de sete milhões de euros, na região temos de ficar satisfeitos: este é um tempo único para o interior e é uma enorme oportunidade para a Guarda (e evidencia a falta de confiança de António Costa numa administração pública centralista, lisboeta e obsoleta – um Governo com muitos elementos para poderem mudar o país que as elites e os burocratas da administração publica anquilosaram).
Esta decisão reforça a relevância do momento extraordinário que poderemos viver no novo ciclo político em que entramos. A chegada ao Governo em simultâneo de três personalidades da Guarda é outro momento histórico. A escolha de Ana Abrunhosa para ministra da Coesão Territorial – que será uma janela de esperança para o país “real” e também para a região; a nomeação de Ana Mendes Godinho, deputada eleita pela Guarda, para um grande ministério; a designação de Rita Cunha Mendes para secretária de Estadol, três mulheres, três personalidades de mérito e competência indiscutível que irão integrar o novo Governo – nunca as expetativas deste distrito, deste interior ostracizado e despovoado, estiveram tão altas. (Declaração de interesses: tenho o privilégio de ser amigo destas três grandes mulheres por quem nutro admiração pessoal e profissional; Rita da Cunha Mendes, além de amiga, foi colaboradora do jornal O INTERIOR).
No momento em que parecia que politicamente a região não tinha protagonistas, em especial após a saída de Álvaro Amaro – que era indiscutivelmente a única figura regional com relevância nacional (na próxima semana o Jornal O INTERIOR entrevista o antigo presidente da Câmara), a Guarda entra de rompante num novo ciclo político que poderá mudar todos os cenários, desde logo políticos, para o futuro próximo. O protagonismo de Ana Godinho, Ana Abrunhosa e Rita Mendes será também o protagonismo de uma nova geração e poderá influenciar de forma determinante o pulsar da região, o seu desenvolvimento e afirmação, mas também terá consequências nos movimentos partidários e jogos políticos, nomeadamente na vontade de o PS recuperar a Câmara da Guarda.
PS: Enquanto vivemos momento de grande afirmação de Portugal no mundo e de grande expetativa regional em relação ao próximo governo, é com especial satisfação que exultamos a nomeação do neurocientista guardense Rui Costa para membro da Academia Nacional de Medicina dos Estados Unidos da América. Rui Costa foi cronista de O INTERIOR entre 2000 e 2005.
Uma oportunidade para a Guarda
O protagonismo de Ana Godinho, Ana Abrunhosa e Rita Mendes será também o protagonismo de uma nova geração e poderá influenciar de forma determinante o pulsar da região, o seu desenvolvimento e afirmação