Kátia Almeida nasceu na Alemanha, mas tem raízes familiares em Viseu. Foi naquela cidade que definiu as primeiras linhas do projeto que agora consolida. A Kalium, marca de roupa sustentável que lançou em fevereiro deste ano, resulta da vontade de incluir «valores de sustentabilidade e justiça de trabalho» na moda. «Afetou-me sentir que existe uma parte mais negra neste mercado», afirma a jovem de 28 anos, referindo-se ao consumismo desenfreado e ao impacto ambiental associado a esta indústria, uma das mais poluentes do mundo.
Define o estilo das suas peças de vestuário como «minimalista e monocromático», com enfoque no pormenor. Camisas, t-shirts estampadas, camisolas, calças adaptáveis a diferentes tamanhos e acessórios texteis de redução de desperdício (como discos desmaquilhantes reutilizáveis) fazem parte da oferta da Kalium, uma marca integrada na incubadora “A Praça”, no centro do Fundão, ligada à RNI – Rede Nacional de Incubadoras. Esta é a plataforma que serve de berço a novos projetos de empreendorismo e novos negócios na cidade. «Há uma grande sinergia de todos os que aqui estão sediados, o que faz com que haja muita entreajuda», salienta a designer.
Para fabricar as peças, a marca recorre a matérias-primas que se baseiam em sobras de fábricas da região «utilizo excedentes de tecido, numa lógica de upcycling [reutilização criativa de produtos ou resíduos] e isso permite-me superar um desafio maior na produção, pois tenho de me cingir ao que encontro disponível», explica a jovem. A designer esforça-se por incluir a sustentabilidade em todas as vertentes da logística de produção. Utiliza caixas de cartão de supermercado para recolher e armazenar os materiais, os botões e etiquetas da roupa são reciclados, e recorre casualmente ao auxílio de costureiras locais. «A sustentabilidade não é só a nível ambiental, mas também se prende com a valorização justa do trabalho, e é isso que tento fazer com as pessoas envolvidas na produção» que descreve como «muito qualificadas».
Após concluir o mestrado em Design de Moda, na Universidade da Beira Interior, Katia Almeida foi estagiar para Lisboa, onde trabalhou com os designers Storytailors. «Foi bom durante algum tempo viver lá, mas percebi que prefiro um modo de vida mais calmo e seguro», explica. Ao concluir o estágio profissional no Fundão (que fez de seguida), decidiu que seria aqui que ficaria sediado o seu negócio, cujas estratégias começou a delinear em 2017, com a ajuda de um programa governamental de apoio ao empreendedorismo (Empreende Já).
Por agora a Kalium vende em feiras da especialidade em vários pontos do país, através do facebook e em sites multimarca. O website de venda online está em construção e será lançado brevemente. Apesar de admitir que o grosso das suas vendas é feito em Lisboa e Porto – onde se desloca regularmente – insiste em ficar no Fundão, onde assegura ter condições para crescer «estar aqui é estar a meio caminho das duas cidades e isso é muito vantajoso, além disso, é aqui que estão os meus fornecedores, se estivesse em Lisboa não teria tantas fábricas nas proximidades». Para Kátia Almeida estar no interior não é uma desvantagem, mas antes uma «oportunidade de fazer a diferença». A jovem designer pretende estimular «a noção de um consumo mais consciente» na região, onde admite ainda não existir grande recetividade a marcas sustentáveis e artesanais. Apesar disso, acredita que as mentes estão a mudar e que no futuro a moda sustentável terá cada vez mais adeptos.