Depois de semanas de campanha “morna”, para as próximas legislativas, aguardava-se com expetativa o debate entre António Costa e Rui Rio. E Rio sobreviveu.
As expetativas para o debate, e em especial sobre o desempenho do líder do PSD, eram baixas, mas Rio saiu vivo e isso não irá mudar a intenção de voto da maioria, mas permite “cerrar fileiras” à volta do presidente do partido e recuperar algum fôlego ao PSD. Poderá não chegar para impedir a maioria do PS, que tantas sondagens antecipam, mas deu um sinal de vida do PSD. Rio mostrou estar preparado e ter uma visão global dos problemas do país, depois de tantos equívocos e ziguezagues – de que a posição sobre os professores é apenas um dos episódios. Não houve divergências de fundo, nem histerismos ideológicos, mas houve alguma clarificação sobre a governação atual e futura.
Não se esperava que Costa colocasse Rio contra as cordas ou que Rio conseguisse enervar o secretário-geral socialista habituado a sair airoso de qualquer ataque.
E não era fácil ganhar o duelo para quem tem feito tão fraca oposição.
Mas Rio podia ter ido muito mais longe. Podia ter recuperado a crítica à falta de coesão territorial e as promessas de milhões para o interior, que tardam em chegar. Devia ter aproveitado para recordar a reprogramação do Governo que desviou cerca de 1.000 milhões de euros de fundos comunitários que estavam consignados aos territórios de baixa densidade para serem investidos em Lisboa e Porto. Ou recordar que a Unidade de Missão para a Valorização do Interior foi um logro, como reconheceu a então presidente Helena Freitas ao confessar que 99 por cento das medidas nunca saíram da gaveta (ou até aldrabice da instalação de uma secretaria de Estado para a Valorização do Interior em Castelo Branco, mas cujo número de telefone é no Terreiro do Paço – 213245400). E podia ter criticado o governo pelos anúncios em tempo de campanha, como o do hospital da Guarda, e que depois cairão no esquecimento por entre a espuma da vitória anunciada. Rio podia ter aproveitado para referir que o governo ficou (desviou) com metade do Fundo de Solidariedade da União Europeia que era destinado a investimento nas zonas afetadas pelos fogos em 2017. O presidente do PSD podia ter aproveitado a crescente desigualdade entre litoral e interior e falar do despovoamento do país, mas isso Rio não o fez, porque não se compromete com a regionalização, porque prefere contrariar para depois concordar (como no caso do aeroporto do Montijo), porque quer descer os impostos mas que, afinal, não podem baixar, porque o SNS está mal mas as PPP vão funcionando… Podia ter atirado com a incapacidade do mesmo SNS não conseguir contratar médicos, mas esses vão para os privados, e Rio acha que o privado é melhor. Ou atacar com a falta de médicos no interior, com a dependência dos hospitais centrais porque no interior não há especialistas, mas isso não rende votos, pois no interior já não há eleitores. Podia ter aproveitado para identificar as muitas falhas e promessas de Costa por cumprir, mas preferiu mostrar que também tem pose de estadista e vocação de primeiro-ministro. Costa agradeceu. Porque para o primeiro-ministro bastava-lhe deixar passar o tempo. Bastava-lhe não se mexer muito. Rio salvou-se, recuperou as bandeiras do centro-direita e injetou algum fôlego no PSD, mas perdeu uma enorme oportunidade de defender o país e captar os eleitores do centro. O PS agradece.
Um país, muito para além dos debates
A Unidade de Missão para a Valorização do Interior foi um logro e 99 por cento das medidas nunca saíram da gaveta (como o é a secretaria de Estado para a Valorização do Interior em Castelo Branco, mas cujo número de telefone é no Terreiro do Paço)