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«Estaremos em condições de pôr as obras da PLIE a concurso segunda-feira»

Maria do Carmo Borges, Presidente da Câmara da Guarda, a propósito dos 805 anos da cidade, comenta os assuntos que mais preocupam os guardenses

P-Como vê os 805 anos da cidade?

R – É muito tempo para fazer uma retrospectiva da cidade. Mas temos neste momento uma cidade onde dá gozo viver.

P-Qual o presente de aniversário que gostaria que o concelho recebesse?

R-O melhor presente que a Guarda tem são as pessoas que vivem e acreditam na Guarda e que, sobretudo, têm confiança nelas próprias e no seu poder.

P-Mas tem reclamado várias vezes a falta de apoio do Governo?

R-Preferia não falar disso no Dia da Cidade. Ainda assim, gostaria que o Governo no dia 27 se comprometesse a não encerrar a maternidade da Guarda e a iniciar as obras do novo hospital em 2006. Que a Plataforma Logística estivesse já repleta de empresários. Que a estrada verde – que será importantíssima para o desenvolvimento integrado do turismo na nossa região – não tinha qualquer bloqueio e que poderíamos chegar ao planalto central da Serra da Estrela sem problemas…

P-O que é mais urgente neste momento?

R-Neste momento é a maternidade. Mas como dizia há dias, esta é uma questão que diz respeito a todos. Eu estarei na frente da luta e, se for necessário, na rua.

P-Não acha lamentável não haver uma unanimidade à volta desse problema?

R-Acho que há uma unanimidade. Há dias, dizia-se que o director clínico do hospital tinha tido um comentário que defendia a ideia de que a maternidade deveria passar para a Covilhã, local onde se deveria criar um centro de excelência. Não quero crer que isso seja verdade! Se fosse, diria que o director clínico não deveria continuar à frente dos destinos do hospital, onde deveria lutar com todas as forças para a continuidade dos serviços que são bons. Faz todo o sentido que quem neste momento está à frente do Hospital da Guarda tenha que lutar forçosamente pelos serviços em que temos qualidade. Pode haver algum serviço que não esteja tão bem, mas no serviço de obstetrícia temos um grupo de profissionais excelentes e a Guarda é das três maternidades aquela onde nascem mais crianças.

P-Já tentou reunir com o ministro da Saúde para o sensibilizar para esta questão?

R-Não acho que seja necessário fazer uma reunião. O que é necessário é fazermos aquilo que fizemos. A Câmara, por unanimidade, tomou a decisão de alertar o ministro para alguma coisa estranha que possa acontecer. O que poderei dizer de viva voz ao ministro é o que lhe disse através de um ofício. E não acredito que algum ministro tenha a coragem de vir encerrar uma maternidade, seja onde for. Se algum serviço necessita de estar próximo dos utentes são precisamente as maternidades. Acho que não haverá coragem moral para encerrar a maternidade. Não fará sentido que uma parturiente de Figueira de Castelo Rodrigo, da Mêda ou de Foz Côa chegue à Guarda para lhe dizermos que o seu filho terá que nascer na Covilhã.

P-Apesar de tudo está optimista?

R- Estou…

P-Vai ficar sentada à espera?

R-Eu nunca fico sentada à espera…

P-Este foi um ano negro para a Guarda…

R-Nem tudo foi mau. Não podemos dizer que foi o ano negro da Guarda. Poderá ter sido um ano menos bom do investimento do poder central na Guarda. Para falarmos do ano bom teremos que falar em muitos aspectos positivos como a certificação do ar, que poderá ser uma mais-valia. Há outros concelhos a querer fazer essa medição e espero que a Guard’Ar seja mais rápida na concretização dos projectos. Há também o Centro de Estudos Ibéricos, que se consolidou, e penso que a edição do Prémio Eduardo Lourenço poderá ser uma referência nacional e internacional. Depois há ainda todos os espaços culturais que a Câmara está a oferecer à cidade e que já deveriam estar feitos há mais tempo, mas que não tinham sido ainda possíveis.

P-Isso chega para elevar a auto-estima dos guardenses de que tanto fala?

R-Acho que a auto-estima tem que passar por cada um. Na tomada de posse deste mandato desafiei os órgãos de comunicação social a ajudar a mostrar a Guarda de outra forma. Esse aspecto foi evidenciado precisamente por “O Interior” quando falou da escola de Videmonte. Isso chegou para que centenas de guardenses espalhados por este país se sentissem muito orgulhosos porque tínhamos uma iniciativa que era original e dava resposta às necessidades da população. Na Guarda não se vive pior que nos outros sítios. Muito pelo contrário. Claro que as portagens afectarão a cidade e toda a região, mas não acredito que venham a acontecer.

P-Como vê os problemas do Instituto Politécnico?

R-O IPG é o exemplo de que as pessoas têm que fazer a sua auto-crítica e chegar a uma plataforma de entendimento, porque senão estarão a matar aquilo que seria na Guarda também uma grande oportunidade de desenvolvimento. A educação é um ponto de referência na questão do desenvolvimento e o ensino superior tem que ser cada vez mais de qualidade. É urgente que as pessoas que trabalham no IPG se preocupem cada vez mais com a qualidade que prestam, em vez das guerrinhas pessoais.

P-As grandes obras deste mandato serão inauguradas em 2005, ano de eleições. Não lhe parece um agendamento eleitoralista?

R-Não. Se tiverem analisarem o percurso desta equipa na Câmara dar-se-ão conta que no mandato anterior não se fizeram inaugurações em 2001, mas em 1999, ano em que comemorámos os 800 anos.

P-Há alguma desilusão da sua parte por não poder inaugurar a Biblioteca e o CEI no Dia da Cidade?

R-Não. É porventura um pouco de tristeza, pois era o dia ideal. Se no dia 2 de Dezembro vamos entregar o Prémio Eduardo Lourenço, altura em que faz anos o desafio lançado pelo professor para que a Guarda criasse este CEI, teríamos muito orgulho em homenagear a ideia com a entrega da casa. Não vai ser possível. Felizmente temos o CEI construído, mas tivemos um problema com o empresário que estava a construir a Biblioteca…

P-Não acha curiosa esta coincidência das obras da Câmara Municipal serem construídas por empresas que, em vários casos, acabam por abrir falência?

R-Infelizmente não acontece só na Guarda. Se fosse só na Guarda, diria que nos tinham dado “malapata”. A empresa que está agora com problemas na Biblioteca é a primeira obra que faz na Guarda.

P-Mas por exemplo o Solar General Povoas, em que as obras começaram em 1999, vai no terceiro empreiteiro e continua em obras…

R-Essa é uma obra em que acho que nos deram “malapata”. Quando este empreiteiro tomou conta da obra, avisei-o logo para que não acontecesse o que aconteceu aos outros dois anteriores. Penso que vai levar a obra a bom termo e que a teremos concluida brevemente.

P-O Polis apresentou-se bastante ambicioso e aos poucos, devido aos apertos que o Programa tem sofrido a nível nacional, vemos a exclusão de algumas áreas de intervenção, nomeadamente a segunda fase do Parque do Rio Diz e que põe em causa todo o processo?

R-Espero que o ministro das Cidades, à semelhança do que tem feito noutras cidades, venha dizer à Guarda que é possível suportar os problemas do Polis com a assinatura de contratos-programas.

P-Mas há uma desilusão com o Polis?

R-Claro que há.

P-Mas era uma responsabilidade da sociedade Polis, na medida em que não agilizou o programa?

R-Não é verdade. Este Governo deveria ter tido a coragem de acabar de imediato com o programa a partir do momento em que não acreditasse nele. Disse exactamente isso ao ex-ministro Amílcar Theias para que não o continuasse a mastigar. Não é da responsabilidade da sociedade Polis, porque quando este programa foi criado foi dito que mesmo os Planos de Pormenor iriam ser agilizados e não foram.

P-Grande parte dos terrenos onde decorre a intervenção ainda não foram adquiridos formalmente mas, por exemplo, os da Fábrica Tavares foram adquiridos extemporaneamente?

R-Não é paradoxal. São coisas distintas. O espaço da Fábrica Tavares é adquirido pela Câmara, mas não com o objectivo de integrar o Polis. São projectos paralelos da Câmara. Comprámos aqueles terrenos após o incêndio. Era a oportunidade para adquirir aquele espaço sem haver a reconversão da fábrica e tínhamos que fazer tudo para a tirar dali, pois estava a prejudicar o ambiente. O outro espaço em que está a decorrer a intervenção está negociado com todos os proprietários, mas é verdade que há alguns com quem ainda não foi acertado o preço.

P-Quando é que o concurso de infraestruturação da Plataforma Logística será lançado?

R-Espero que na próxima reunião de Câmara (que foi ontem) o projecto seja aprovado. Se isso acontecer estaremos em condições de pôr a obra a concurso na segunda-feira.

P-E o resto do financiamento (para além dos 3,2 milhões de euros que provêem do Interreg)?

R-Pedi uma reunião ao ministro da Economia. O anterior ministro tinha aberto todas as possibilidades para que o ministério nos pudesse financiar. Como há um novo titular da pasta, o processo atrasou e há que reunir com o novo ministro. Temos tido sempre o melhor acompanhamento da delegação de Economia de Coimbra e espero ter o mesmo apoio do Programa de Economia Regional.

P-Um dos problemas da cidade é o estacionamento. A Câmara decidiu lançar um parque subterrâneo no Jardim de Lemos…

R-É uma parte do problema. Se calhar não serei politicamente correcta, mas cada vez mais teremos que ter a noção que a Guarda tem que ser devolvida aos peões. É obrigação desta Câmara criar alternativas aos carros dentro da cidade. E quando a Câmara contemplava imensos parques de estacionamento junto ao Rio Diz, era com a ideia de fazer protocolos com as empresas de transportes da cidade no sentido de ter mini-autocarros para que as pessoas deixassem os carros na periferia.

P-Quer que as pessoas venham a pé para a cidade?

R-Não estou a defender isso. Sei que vivemos numa cidade de montanha. Teremos é que encontrar outras alternativas, que não só o estacionamento no centro. Quando o estacionamento estiver a funcionar, vamos ter mais estacionamento vazio e muita sobrecarga nos espaços que não forem pagos. Aproveito também para anunciar um outro projecto para um novo parque subterrâneo no cruzamento da Soeiros Viegas, junto à escola Santa Clara, que ainda não foi apresentado à comunicação social e que irá à próxima reunião de Câmara (ontem).

P-Porque é que a Câmara demorou tanto tempo a tomar uma decisão sobre o parque subterrâneo no José de Lemos?

R- Por culpa da presidente de Câmara. Acho que nos habituámos a ver aquele espaço devidamente organizado urbanisticamente. Pedimos aos técnicos desta casa que tentassem encontrar outras soluções e como me garantiram que não havia melhores, pedi então para que o concorrente que ganhar o concurso tenha uma solução urbanística para aquele espaço.

P-Acha que faz sentido levar à reunião de Câmara o projecto subterrâneo junto à escola de Santa Clara, que está a pouco mais de cem metros do Jardim José de Lemos?

R-Faz sentido, sobretudo para as pessoas que utilizam o centro histórico.

P-É uma resposta aos protestos dos comerciantes do Centro Histórico como alternativa à Praça Velha?

R-Não. Não estou aqui só para desagradar às pessoas. Aquilo que disse com frontalidade aos comerciantes é que conheciam este projecto e a posição da Câmara há mais de um ano e não era no momento em que começaram as obras que deviam ter aquela atitude. O que os comerciantes fizeram, quando andaram a fazer o buzinão à porta da Câmara, foi pura demagogia.

P-No manifesto de candidatura de Maria do Carmo Borges, o Centro Histórico aparecia com algum destaque. Não é uma decepção chegar a este aniversário com o Centro Histórico abandonado?

R-Não é verdade. O Centro Histórico é uma obra que nunca estará concluída e que vai exigir sempre muita atenção. Houve a desilusão do Cybercentro, mas fizemos um investimento avultado na aquisição daquela casa, houve a recuperação dos Paços de Concelho e falta agora adquirir ainda a casa por cima do Banco Espírito Santo para lhe dar outra imagem. Mas recuperámos a casa onde hoje está o GAT, a casa onde seria o Centro de Interpretação do Parque Natural da Serra da Estrela, o edifício do Polis, a Loja do Concelho e temos uma nova iluminação no centro histórico.

P- Tem então um centro histórico fantástico?

R- Não temos um centro histórico fantástico, mas foram feitas várias intervenções.

P-O pavimento das ruas continua a ser a calçada à portuguesa?

R- Quanto ao pavimento, creio que os paralelos são uma boa solução. É claro que o Centro Histórico não está bem e há uma coisa em que falhei por não ter tido capacidade financeira. Pretendia adquirir casas para recuperar para habitação. Aquele espaço tem vida nocturna, mas precisa de vida diurna. Só consegui adquirir uma casa que quero recuperar no próximo ano. Se o não conseguir fazer, será uma frustração para mim.

P-O Governo permite às Câmaras resolver esses problemas através da criação de uma empresa municipal de requalificação urbana? A Câmara da Guarda tenciona criar essa empresa?

R-Não. Não temos capacidade. A Câmara estudou e analisou essa possibilidade. Para criarmos essa empresa seria útil que tivéssemos a iniciativa privada ou construtores que fossem na aventura de comprarem, recuperarem e venderem casas. E é difícil na Guarda, precisamente pelo alto valor que as pessoas pedem pelas casas.

P- Quanto ao Bairro da Fraternidade?

R-O primeiro grupo de pessoas do Bairro está prestes a ocupar as casas na Estação e vamos fazer outro bloco para alojar as restantes pessoas. Vamos deixar de ter aquele bairro da forma como está neste momento e demoliremos algumas das casas assim que o primeiro grupo for realojado.

P-Como está a ligação da Alameda da Ti Jaquina à VICEG?

R-O Plano de Pormenor está quase concluído e estamos prestes a entrar em negociações com os donos dos terrenos para fazermos uma perequação para que o Governo possa avançar já com aquilo que lhe compete para fazer a obra.

P-Em relação ao TGV, a Guarda ainda está a tempo de apanhar a grande velocidade ferroviária ou já perdemos o comboio?

R-Estou convencida que não. O Ministério está a estudar o projecto, portanto, nada está perdido. Tivemos há dias um apoio de fundo, o governador civil de Salamanca, que defendeu no nosso Governo Civil uma paragem na zona da Guarda porque era do interesse de Salamanca e de toda a região transfronteiriça.

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