Biografia da autoria do investigador João Esteves foi “apagada” do Facebook e republicada mais tarde na página “antifascistas da resistência”. Vem este nome a propósito dos incómodos de alguma esquerda em relação a realidades que se desalinham. Cândida Ventura foi militante do PCP e por essa razão viveu na clandestinidade dezoito anos, passou por Caxias, esteve exilada e conviveu com Álvaro Cunhal no comité central do partido. Os camaradas não perdoam as dúvidas, as incertezas e sobretudo a dissidência. Aquilo não é como a Igreja católica, em que é tudo convertido, não praticante e frequentemente opositores e más-línguas à liderança dos padres e restante clérigo. No PCP milita-se, participa-se, vai-se ao grande momento da festa do Avante e não se discute a lógica das diretivas. Cândida Ventura exilou-se em Praga e descobriu na carne como o partido comunista da Checoslováquia silenciava a Primavera, como abafava os críticos do regime e depois teve de conviver com o apagamento da sua existência engajada por se revelar uma desapontada e duvidosa camarada. Escreveu o livro “O socialismo que eu vivi” em 1984, de composição muito crítica dessa experiência, já em Portimão, onde viveu desde 1976 sem grande brilho nem visibilidade.
Uma característica da realidade do Leste é que o discurso crítico das pessoas livres é contra o socialismo e os partidos comunistas. Muito gostavam que se fizesse lá o que aqui temos escrito sobre o fascismo e os partidos que o apoiam. Por lá, os presos políticos eram opositores ao comunismo e aos partidos que governavam em nome do socialismo com mão de ferro, construindo privilégios aos líderes do regime. No que digo não sonego as coisas que testemunhei, em 1980, que por lá havia e eram fantásticas: escolas, sistema de saúde, transporte público. Outras coisas eram infames, mas houve sempre pessoas para o denunciar e escrever.