Neste Portugal, que não é só do fado, do futebol e de Fátima, mas também da lisbon business, da websummit, dos sunset, dos brunchs, das startup e uma miríade de outros que tais. Neste braçado de gente que se indigna, chora e protesta pelos migrantes do Mediterrâneo e do México, há muito quem se entretenha a disputar campeonatos de “bullying” aos emigrantes para se entreter nas férias que, julgo, tiram deles próprios. Aos participantes deste jogo basta conseguir a melhor – ou pior – frase, anedota, a depreciar emigrantes. Os que não tenham frequentado o ensino superior, entenda-se. Os licenciados que em tempos foram aconselhados a emigrar, se o fizeram, têm estatuto de heróis e com esses não há cá joguinhos, quanto mais campeonatos de queixumes e impropérios pelo possível barulho que façam. A bem dizer, ainda não consegui perceber o que terão, os que um dia foram tratar da vida só porque sim, que tanto espírito acicate? Será por uma vez por ano lhes dar para vir frequentar lojas e restaurantes, praças e tascas, serras e praias? É que, ainda por cima, até lhes dá para dormir em Vales e Quintas de qualquer coisa. Quando calha dar por ela, costumo perguntar por que razão o fazem. Os puritanos da língua afiançam-me que o “sr. Emigrante, em Portugal, fale Português” é só para preservar o orgulho nacional. Como se não fosse costume observá-los a aperfeiçoar brunchs e meetings. Os cívicos, geralmente mais cínicos que os anteriores, dizem que é por não suportarem “parolices, de quem não sabe estar”. Como se suportá-los a eles, mais à sua “pseudofinesse”, durante o ano todo fosse a pera mais doce.
À falta de explicações mais verosímeis, desconfio que seja por interpretarem como insolente o ato de cada emigrante se ter escusado a ser um potencial alvo das suas investidas snobs durante o resto do ano. Parece não lhes conseguirem perdoar a ousadia e determinação de quem um dia, sem qualquer ajuda ou muleta, tenha decidido abalar. Pois bem, num tempo em que a felicidade se instituiu como clímax do sucesso, melhor fariam se fossem atrás dela e deixassem os emigrantes em paz. Diz-se que gente feliz não chateia ninguém e, assim sendo, sempre ficávamos mais simpáticos para quem, à semelhança dos do Mediterrâneo e do México, passaram sabe-se lá o quê para aqui chegar e nem sequer fica por mais de 30 dias. A um país que teima em não sobrelevar ou sequer aturar os “avec” é que não sei se voltaria muitas vezes. Já que os nossos emigrantes não se importam de o fazer, tenhamos pelo menos a gentileza de os acolher condigna e respeitosamente e deixemo-nos da do “fale Português!” e outras pérolas do género. Até por, a julgar pelo esforço cada vez mais observável para falar de forma “cosmopolita”, se poder imaginar a dificuldade de quem tem de passar onze meses a falar uma língua e ter de passar agosto a falar outra. Isto já para não falar dos muitos que nem sequer aulas em Português tiveram, porque o normal no ensino do Português no estrangeiro é ser esquivo: está sempre a fugir de qualquer lado.