O ensaísta, filósofo e historiador Jesué Pinharanda Gomes, falecido no passado dia 27 de julho, foi considerado na nota difundida pela Presidência da República como «um dos nomes mais destacados no estudo e divulgação do pensamento português» e «trabalhador incansável, um homem de convicções profundas».
Pinharanda Gomes (nascido em Quadrazais, Sabugal), figura incontornável da cultura portuguesa, foi tudo isso e muito mais; foi «um exemplo vivo de um estudioso desinteressado, sem prebendas nem honras institucionais, fazendo do estudo erudito uma vocação de vida», como escreveu Miguel Real.
Literariamente falando, Pinharanda Gomes era natural da Guarda, embora realizado em Lisboa, como nos referiu; foi na cidade mais alta de Portugal que lançou as primeiras raízes. A sua fidelidade à “mátria” foi constante, exemplar, de uma grandeza própria de personalidades de enorme saber, mas simultaneamente simples, humanas e profundamente solidárias com a sua terra de origem.
No conjunto vasto de títulos publicados por Pinharanda Gomes avultam três áreas: os contributos na História da Filosofia; as monografias da história da Igreja e os estudos regionais. Defensor convicto, e incansável, do nosso património histórico-cultural assumiu igualmente a salvaguarda dos valores humanos, mormente desta zona raiana.
Em entrevista que nos concedeu, há alguns anos atrás, para a revista “Praça Velha”, declarava-se «um hermeneuta da cultura» pois procurava «interpretar os seres, os factos e as coisas do âmbito cultural, sobretudo do pensamento, mas de modo a preenchê-las» com o seu próprio significado. O seu vasto labor não se circunscreveu, contudo, às edições conhecidas, pois «há uma atividade que não vem muito a público e que diz respeito às centenas de verbetes» que redigiu para Dicionários e Enciclopédias, quase sempre assinados, ou com as letras P.G.
Desde 1981, e após a realização do I Encontro de Comunicação Social da Beira Interior, promovido, na Guarda, pela Rádio Altitude que os meus contactos com Pinharanda Gomes foram regulares, acentuados com a colaboração por ele dada ao quinzenário “Notícias da Guarda”. Aliás – é justo e oportuno realçar – foi sempre um inquestionável defensor da imprensa regional, sublinhando sempre o seu importante papel informativo e cultural.
Recordemos que em 1983 publicou “Memórias de Riba Coa e da Beira Serra – A Imprensa da Guarda”, obra através da qual quis evocar os «homens e mulheres que, desde meados do século XIX, fizeram os jornais no distrito da Guarda, pioneiro da imprensa política regional e da imprensa católica nacional». Na nota introdutória desse livro, Pinharanda Gomes afirmava que a «progressão cronológica do aparecimento de jornais, a tipologia diferenciada, as alternâncias ideológicas, são quadros vivos mesmo agora que, de muitos deles, já não temos senão raros exemplares». Leitor atento da imprensa regional, mormente da Guarda, Pinharanda Gomes bem pode ser considerado um paladino dos jornais editados no país real. A imprensa tem o dever da memória, assim como a Rádio da sua Guarda, onde interveio, no plano cultural, em finais da década de 50 do passado século.
Nestas breves notas solicitadas pelo diretor de O INTERIOR, mais do que discorrer pela obra, vastíssima, de Pinharanda Gomes importa relembrar o mestre, o homem de cultura atento ao que se passava na região onde nasceu; correspondendo sempre aos convites formulados para aqui transmitir o seu saber, partilhar a sua experiência, incentivar o estudo.
A melhor homenagem que lhe poderemos fazer será, sem dúvida, conhecer e divulgar a sua obra onde sobejam inúmeras indicações para diferenciadas e interessantes linhas de investigação e conhecimento, em vários campos do saber; perpetuando assim a sua memória.