Trabalhadores que operam mais de oito horas por dia, sem receber pelas horas extra, e ainda a ter de mostrar boa cara ao patrão, vão andando. Polícias encafuados em esquadras sem condições, a circular em viaturas a cair aos bocados, encalhados nas carreiras, vão andando. Militares em quartéis improvisados e sem progredir há uma data de anos, vão andando. Professores já sem energia para tanto aluno junto, a ter de lidar com filhos de muita gente estranha, sem qualquer perspetiva de melhoria na carreira, vão andando. Bem vistas as coisas, quase todos os trabalhadores deste país vão andando. Tal qual como os governos querem e os telejornais ditam.
Tratassem eles da saúde às pessoas que outro galo cantaria. Sim, se todos eles trabalhassem num hospital, ou centro de saúde, outras câmaras os perseguiriam. Muitos telejornais abririam e fechariam, muitos debates alimentariam, porque com a saúde das pessoas não se brinca. Uma pessoa doente é uma pessoa doente. Não pode estacionar-se numa maca de um corredor de Urgência à espera que o médico a venha atender. Além do risco de que morra sem assistência, há ainda a questão da indignidade que é estar para ali exposta ao corrupio de enfermeiros, maqueiros, administrativos, pessoal da limpeza e outros congéneres, sempre tão ocupados e apressados que até parece que a vida de alguém depende deles. Como não haveria de ser se uns médicos desatassem também a andar neste para trás e para a frente a congestionar ainda mais o espaço que, vá lá saber-se porquê, está sempre a encolher? Mais a mais com a mania, que a maioria dos médicos e alguns enfermeiros têm, de andar sempre com uma equipa de reportagem televisiva atrás.
Ao menos o espaço das esquadras, dos quartéis, das escolas, nunca encolhe. São construções do bom tempo, robustas, versáteis e arejadas. Construíram-nas e, pronto, dão para a vida toda. Se bem que nem fosse preciso tanto, raramente são filmadas ou, sequer, fotografadas. Bem podem ser de uma maneira qualquer e poupar-nos à preocupação de não termos dinheiro para outras obras que não as dos hospitais e das carreiras do pessoal de saúde. O que, dado a constante evolução tecnológica e social, até é compreensível que isto de equipamentos e procedimentos médicos requere condições extraordinárias e constante adaptação dos espaços e profissionais. Por causa disso, só aqui na Guarda, já conheci a urgência hospitalar e o centro de saúde a funcionarem para aí nuns quatro espaços diferentes. Já ao quartel da GNR só o vi mudar-se uma vez, enquanto a esquadra da PSP se mantém, firme, onde sempre a conheci, por exemplo.
Se atendermos a que “só se muda o que está mal”, nesta terra, à semelhança do resto do país, a saúde é a única coisa que parece nunca estar bem. Ah! E os bombeiros…