Já em artigos anteriores abordámos as diferentes tipologias de assentamentos romanos na Península Ibérica. De facto, torna-se evidente que, seguindo uma economia de aproveitamento dos recursos naturais de cada região, é comum o surgimento de sítios arqueológicos de período romano em locais onde, à partida, seria difícil supormos a sua existência.
Este é, sem dúvida, o caso de alguns sítios arqueológicos detectados ao longo das vertentes da Serra da Estrela, com uma vocação, possivelmente militar (numa primeira fase de ocupação) e de exploração dos recursos naturais (numa segunda fase), com especial incidência na exploração agrícola e mineira.
Um dos melhores exemplos, que pretendemos abordar, corresponde à Ilha do Pessegueiro, na costa alentejana.
Com a intervenção arqueológica, dirigida por Joaquina Soares e Carlos Tavares da Silva, ao longo das duas últimas décadas do século XX, foi possível detectar diversas estruturas de período romano, com diferentes finalidades: tanques, termas, área habitacional, forja, armazéns…
A escavação arqueológica permitiu confirmar que a primeira ocupação do sítio remonta ao período entre os séculos IV/III e I a.C. A segunda fase remete-nos para o século I d.C., correspondente a um assentamento com uma função comercial. Esta teoria foi comprovada pela identificação de locais de armazenamento e de fábricas, edifícios de planta rectangular, com diversos tanques no seu interior. A ilha comercializava produtos piscícolas, produzidos nas fábricas, beneficiando da existência da fauna piscícola e da sua posição geográfica.
Com estruturas simples, a ocupação da ilha possuía como finalidade a criação de um entreposto comercial. Possivelmente, tratar-se-ia de um local ocupado sazonalmente, na Primavera e Verão, períodos de calmia do Atlântico, permitindo a pesca.
Fazendo parte das redes comerciais do século I e II, não só exportava os produtos que elaborava, como também levava ao desenvolvimento de outras actividades: construção de barcos, produção de redes e facas, produção de sal e de ânforas (contentores dos preparados piscícolas).
Aproveitando os excelentes recursos naturais da Península Ibérica os romanos souberam implementar centros de exploração, desenvolvendo a economia localmente e integrando esta área nas rotas comerciais de longo curso.
Por: Vítor Pereira
