É na Serra da Estrela e na Beira Interior Norte que se verificam os maiores índices de pobreza de toda a região. A conclusão é do Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social do Concelho da Covilhã, da Universidade da Beira Interior, que num estudo acerca dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção (ex-Rendimento Mínimo Garantido), concluiu que em 49 por cento da população daquelas duas NUT’s (Nomenclatura de Unidade Territorial), 72,24 por cento são beneficiários daquele subsídio.
É na Beira Interior Norte que existe uma maior taxa de beneficiários (46 por cento de toda a Beira Interior), sendo que nesta NUT é o concelho da Guarda que conta com mais beneficiários do RSI (29 por cento), seguido do Sabugal com 16 por cento. Uma percentagem que demonstra, segundo Pires Manso, professor catedrático em Economia e coordenador do Observatório, «uma maior pobreza» nesses concelhos. «O que concluímos é que quanto maiores são os subsídios mais precária é a situação», esclarece aquele responsável a “O Interior”, admitindo, por outro lado, que «as condições de vida destes beneficiários estão ainda bastante aquém do mínimo desejável caso os subsídios sejam retirados». Embora haja casos em que muitas pessoas vivem às custas da prestação do RSI para não trabalharem, o Observatório alerta que Portugal tem dos piores índices de pobreza da União Europeia e que por isso «as prestações são mínimas para quem vive na miséria e tem famílias com bastantes filhos», esclarece-se no estudo, pelo que as verbas «não são suficientes» para que os beneficiários tenham uma vida mais digna.
Na realidade, este subsídio é concedido a quem «pouco ou nada tem e vive em ambientes onde a pobreza e a exclusão social imperam», lê-se ainda naquele relatório. Na NUT Serra da Estrela, é no concelho de Seia que residem mais pessoas dependentes daquele rendimento (45 por cento), seguindo-se Fornos de Algodres (7,3 por cento) e Gouveia (5,3 por cento). Já na NUT Beira Interior Sul registam-se mais subsidiários em Castelo Branco (63 por cento), enquanto que na Cova da Beira é a Covilhã que concentra cerca de 59 por cento do total dos beneficiários inscritos naquela NUT. Comparativamente, em toda a Beira Interior, que em 2002 possuía 8.760 beneficiários do RSI (cerca de 16,6 por cento dos beneficiários da região Centro), é a Cova da Beira que apresenta a menor percentagem de beneficiários (2,13 por cento), seguindo-se a Beira Interior Sul com 2,48 por cento, a Serra da Estrela com 4,35 por cento e a Beira Interior Norte com 7,64 por cento dos beneficiários da região Centro. No estudo desenvolvido pelo Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social do Concelho da Covilhã, a Beira Interior Sul e a Cova da Beira concentram 51 por cento da população e 27,76 por cento do número de beneficiários de RSI da Beira Interior, enquanto que a Serra da Estrela e a Beira Interior Norte concentram 49 por cento da população e 72,24 por cento dos beneficiários.
Maioria dos subsídios do RSI estão abaixo dos 200 euros
Os dados do RSI de 2002 recolhidos e analisados pelo Observatório revelam ainda que são as mulheres as mais prejudicadas com a falta de rendimentos (53 por cento), excepto no concelho de Celorico da Beira, onde a percentagem ficou em 50 por cento para ambos os sexos, e nos concelhos de Manteigas e Fundão. Ali são os homens que mais sofrem com a falta de rendimentos. Quanto às idades, são os jovens com menos de 24 anos e a faixa etária entre os 25 e os 39 anos os mais beneficiados na Serra da Estrela, na Beira Interior Norte e na Cova da Beira, enquanto que na Beira Interior Sul as pessoas que mais apoios recebem têm menos de 24 ou mais de 55 anos, tal como acontece nas localidades afastadas das grandes pólos urbanos. As prestações do RSI são também muito baixas na região Centro, sendo que na Beira Interior são as NUT’s da Beira Interior Norte (28 por cento dos beneficiários) e da Beira Interior Sul (27 por cento) a receberem mais de 200 euros mensais. Já na NUT Serra da Estrela, cerca de 77 por cento dos beneficiários recebem menos de 200 euros mensais, enquanto que na Cova da Beira apenas 16 por cento recebem mais de 200 euros por mês e 39 por cento da população aufere o RSI por menos de um ano. Para Pires Manso, a solução para evitar esta situação de pobreza nalgumas zonas da região passaria pela «canalização de mais investimento» para o interior do país para criar «mais emprego e melhorar o nível de vida das populações».
Liliana Correia